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Mostrando postagens de outubro, 2008

O martelo

Simples, belo e forte esse poema de Manuel Bandeira. As rodas rangem na curva dos trilhos Inexoravelmente. Mas eu salvei do meu naufrágio Os elementos mais cotidianos. O meu quarto resume o passado em todas as casas que habitei. Dentro da noite No cerne duro da cidade Me sinto protegido. Do jardim do convento Vem o pio da coruja. Doce como um arrulho de pomba. Sei que amanhã quando acordar Ouvirei o martelo do ferreiro Bater corajoso o seu cântico de certezas. (Manuel Bandeira, “Lira dos cinqüentanos”, 1940). M.S.V.

O Dostoiévski de Joseph Frank

Este é sem dúvida o mais completo estudo crítico-biográfico que alguém já dedicou a um autor. Obra em cinco volumes, o "Dostoiévski, de Joseph Frank é um caso raro de persistência, dedicação e talento dedicados ao comentário crítico. É, sem dúvida, muito mais do que isso, mas hoje gostaria apenas de recolher breves trechos sobre o método de trabalho de Frank. Do prefácio a "Dostoiévski, as sementes da revolta", o primeiro volume, anoto os seguintes trechos: "Aos poucos fui compreendendo que, para fazer justiça à minha concepção de Dostoiévski, teria de apresentá-lo no contexto de uma sólida reconstrução da vida sociocultural de sua época. (...) Meu interesse pela vida pessoal de Dostoiévski é, portanto, estritamente circunscrito. (...) apenas me aprofundo nos aspectos dessa experiência cotidiana que parecem ter alguma importância decisiva, ou seja, aspectos que ajudam a comreender melhor seus livros. "Não me movo da vida para a obra, mas sigo a direção inversa&

Lendo com Pierre Menard

"No decurso de uma vida consagrada às letras...", escreve Borges num de seus artigos que compõem Outras inquisições , obra de 1952 que reúne artigos e resenhas publicados em revistas e jornais argentinos, entre 1936 e 1952. Seja pelos temas, seja pelo olhar sobre as obras (estilo), penso que esta coletânea assemelha-se em muito com as demais seletas de contos publicadas pelo autor. Em Borges, parece e haver uma fusão de gêneros, embaralhando as fronteiras entre crítica e ficção. M.S.V.

No centenário de Machado

A atividade crítica de Machado de Assis foi a um só tempo curta e duradoura. Foi curta se considerarmos a pequena quantidade de artigos de que se compõe e o escasso intervalo em que foi concebida, entre 1858 e 1879. Mas foi extremamente duradoura quanto às implicações provocadas na posteridade pelas questões e temas abordados. No dia em que se comemora o centenário de nascimento de nosso escritor maior, invoco a face talvez menos conhecida de sua obra: a de crítico literário. Autor de textos críticos até hoje importantes, como Instinto de nacionalidade, O ideal do crítico ou O passado, o futuro e o presente da literatura brasileira, Machado demonstrou estar atento aos problemas literáriros de seu tempo. Assim, não hesitou, por exemplo, em criticar os solecismos da linguagem comum, que considerava um defeito grave, e a forte influência da língua francesa. Em relação ao teatro, chegou a minúcias como a proposta que estabelecia regras sobre os direitos de representação e também a criação