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Mostrando postagens de fevereiro, 2009

Literatura em perigo não é novidade

Eis um livro que não está nem estará em minha mesa. Trata-se do recém lançado A literatura em perigo , de Tzvetan Todorov (Trad. de Caio Meira, Difel, 96 p,., R$ 25). Não, caro leitor, não se trata de arrogância, desprezo ou falta de interesse pelo tema que, aliás, é dos mais importantes de nossa época. Nesta obra, Todorov – um dos principais expoentes do estruturalismo francês – argumenta que o ensino e a pesquisa de literatura, feito por críticos e professores, está contribuindo para torná-la cada vez menos relevante na sociedade. Em síntese, argumenta que nas escolas e universidades (ele aborda exclusivamente a situação francesa, mas o que diz de lá vale igualmente para o que ocorre aqui) a preocupação metodológica e teórica tomou o lugar dos textos ficcionais. Ora, qualquer um que conheça o que se passa num curso de Letras sabe que isso não é novidade. Para se institucionalizar enquanto área do conhecimento, as sub-áreas acadêmicas ligadas ao ensino e ao estudo das literaturas nece

Um abrigo contra o esquecimento

É preciso um talento incomum para transformar uma história de amor numa narrativa esteticamente convincente. Carta a D. , de André Gorz (Trad. Celso Anzann Jr., Annablume/CosacNaify, 80 págs. R$ 29,00) consegue sair-se muito bem deste desafio. Movido pelo desejo de recontar a trajetória de uma relação de quase seis décadas para compreender o sentido de sua própria existência, o narrador (autobiográfico) se lança na difícil tarefa de elaborar o passado. No entanto, o ato de lembrar não tem o sentido de culto ao passado: o que se vê são as lembranças iluminando o presente. E sem preocupações de ordem cronológica. Uma lembrança puxa outra, num fluxo por vezes aleatório, mas sempre comovente. Como o trecho que descreve o momento em que ele e sua mulher de toda a vida, Dorine, se conheceram, na Paris do pós-guerra. “Nossa história começou maravilhosamente, quase um amor à primeira vista”, escreve. “Depois da terceira ou quarta saída, eu afinal beijei você”, relembra Gorz, em meio a relatos