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Mostrando postagens de outubro, 2009

A cultura do romance

Nenhum outro gênero renega tanto sua própria natureza quanto o romance. Desacreditado, quase sempre em crise, ele atravessou os séculos e sobreviveu a ataques de todos os tipos, do Estado, da Religião e até da própria crítica, que por mais de uma vez lhe decretou a morte ou o acusou de falsificar a realidade. O fato é que, desde meados do século XIX, quando o gênero se fixou entre os leitores das metrópoles européias, com os ingleses Defoe e Fielding, o romance construiu mais do que uma história: há mesmo uma cultura do romance manifesta em certas constantes, como o individualismo, o mito do herói, a formação da personalidade (bildungsroman), a interioridade, o sujeito, o narrador, a viagem. Esses aspectos e muitos outros estão contemplados na gigantesca e fascinante coleção O Romance , coordenada pelo crítico italiano Franco Moretti, cujo primeiro volume ( A cultura do Romance ) foi lançado recentemente no país (Cosac Naify, 1.120 págs., trad. de Denise Bottman, R$ 130). Organizada em

Crítica literária e jornalística

Em entrevista recente, fui perguntado sobre as diferenças entre a crítica jornalística e a crítica literária. O assunto é importante, pois mexe com fatores cruciais para se entender os rumos atuais da cultura letrada. Respondi que toda crítica literária é, em maior ou menor grau, jornalística, pois tem por função servir de intermediação entre o autor e o público. O Brasil possui uma vasta tradição de crítica literária publicada em jornais, e mais do que isso: produzida para o jornal. Depois, é claro, essa crítica vira livro, mas aí já é outra coisa. E por que existe essa proximidade? Porque o crítico precisa comunicar algo para o público. Há uma dimensão publicista da crítica literária que não pode ser esquecida. Ora, o que acontece quando o crítico literário deixa de escrever para o público? Não precisa publicar mais em jornal, e sim em revistas acadêmicas. Por isso sustento essa proximidade entre a crítica jornalística e a literária. São parte da mesma matriz discursiva. É claro que

Pequena crônica de um grande gênero

Entre todos os gêneros de escrita, a crônica talvez seja o mais livre e, ao mesmo tempo, mais difícil de ser definido. E isto se deve, creio, à amplitude estilística e temática que a caracterizam. Na imprensa brasileira, por exemplo, tudo aquilo que é publicado sob a rubrica de crônica acaba se incorporando a esse caldeirão de estilos em que cabe tudo, ou quase. O escritor e jornalista Carlos Heitor Cony, por exemplo, classifica de crônica todos os seus escritos jornalísticos. Onde quer que escreva e sobre o assunto que for, será sempre crônica, costuma repetir em suas entrevistas. No Brasil, a crônica é praticada desde o início de nossa literatura. Há quem diga que se trata de um gênero tipicamente brasileiro, assim como o ensaio é identificado como um gênero tipicamente inglês. É evidente que não somos os únicos a escrever crônica e nem o ensaio é exclusividade dos praticantes do idioma de Shakespeare. São apenas associações entre estilo e cultura. Iniciei com uma referência à amplit