Para que serve a literatura? Borges costumava responder a esta pergunta com outra: ninguém se questiona sobre a utilidade do canto de um passarinho ou das cores do céu ao entardecer, dizia. No ensaio que abre a coletânea A cultura do romance (recém chegado às livrarias, e que comentei aqui outro dia), o escritor peruano Mario Vargas Llosa argumenta, com sabedoria e perspicácia, que a literatura e, em especial, o romance, não é um passatempo de luxo, destinado a uns poucos felizardos (geralmente mulheres) que dispõem de tempo livre para a leitura desinteressada. Desses argumentos, copio: “ A literatura não diz nada aos seres humanos satisfeitos com seu destino, de todo contentes com a vida do modo como a vivem. A literatura é alimento dos espíritos indóceis e propagadora da inconformidade, um refúgio para quem tem muito ou muito pouco na vida, onde é possível não ser infeliz, não se sentir incompleto, não ser frustrado nas próprias aspirações. Cavalgar junto ao esquálido Rocinante e a
Crítica literária e cultural, por Mauro Souza Ventura