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Mostrando postagens de dezembro, 2009

Vozes da África e da biblioteca

Sérgio Augusto escreve no caderno Aliás, de O Estado de S. Paulo, que Desonra , de J.M. Coetzee, foi o melhor romance que leu “nos últimos dez anos”. Exagero. É verdade que o livro incomoda, e muito, e também é verdade que uma das funções da grande arte é justamente incomodar o leitor, fazê-lo ir além do puro entretenimento. Mas considerá-lo o melhor romance dos últimos dez anos é esquecer os últimos Phillip Roth ou ignorar Roberto Bolaño ou Le Clézio, cujas obras são por demais representativas da atual literatura. No mesmo artigo, "Vozes d’África", o jornalista escreve que a África do Sul, sede da Copa do Mundo que inicia em junho de 2010, tornou-se “um dos países politicamente mais estáveis e democráticos do mundo, um modelo para os vizinhos, uma meca turística, um pólo de produção cinematográfica”. Pode até ser isso mesmo, mas a sociedade que surge da obra de Coetzee não é essa maravilha toda. Não se eliminam de uma hora pra outra os ressentimentos culturais fomentados dur

A escritura é a moral da forma

A frase acima é Roland Barthes, o admirado crítico francês que nos anos 1960 e 1970 foi muito lido. Pois foi com o autor de Fragmentos de um discurso amoroso que despertei para essa “divina increnca” que se chama crítica literária. Ainda está vivo em minha memória o momento em que, numa feira de livros da longínqua Porto Alegre, no não menos distante ano de 1982, comprei um exemplar de Crítica e Verdade . Poucos títulos resumem tão bem o problema central desta atividade: que relação existe, afinal, entre crítica e verdade? Chega-se à verdade de uma obra por meio do exercício critico? Agora, relendo O grau zero da escritura , percebo que este pequeno livro é uma preciosidade. No texto que abre esse ensaio, Barthes desenvolve o conceito de escritura, ligando-o às noções de língua e estilo. Enquanto aquela está aquém da literatura, o estilo está “quase além”, escreve. “O estilo tem sempre algo de bruto: é uma forma sem destinação, o produto de um impulso, não de uma intenção, é como que u