E ntão começou a criar personagens em sua mente, mas eram tão passageiros, tão embrionários que mais pareciam clarões. Eram criaturas em passagem, como que saídos de um romance de Robert Walser, o escritor andarilho que não tinha moradia fixa, não possuía livros e escrevia em papéis usados. “Há vinte anos que não tenho mais livros. Também queimei meus papéis. Rabisco o instante... Retenho o que quero”, escreve Monsieur Teste, o enigmático personagem de Paul Valéry. P or falar em andarilhos, lembro que o poeta Mario Quintana morou a vida inteira em pequenos quartos de hotéis. Nunca teve casa própria ou alugada. Costumava vê-lo em suas caminhadas pela Rua da Praia, no centro de Porto Alegre. Seus poemas têm uma simplicidade que fazem com que o leitor os subestime. É um erro. Mas talvez seus versos sejam como clarões na noite escura. “Os poemas são pássaros que chegam, não se sabe de onde e pousam no livro que lês”, escreveu em Esconderijos do tempo , l
Crítica literária e cultural, por Mauro Souza Ventura