Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de abril, 2010

Sartre, testemunha de seu tempo

Poucas imagens tiveram tanta influência na minha formação quanto a do filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre (1905-1980). No próximo dia 15 de abril completam-se três décadas da morte daquele que foi exemplo de intelectual público. No perfil que escreveu sobre ele para o caderno Sabático de O Estado de S. Paulo, no útimo sábado, Gilles Lapouge se pergunta sobre o que está vivo e o que está morto na obra do filósofo que escrevia à mesa do café de Flore, em Paris. Hoje, Sartre está esquecido, afirma Lapouge. O motivo parece simples: seu apego ao presente. Escreve Lapouge: “Em vez de elaborar uma obra altiva, glacial e refugiada nas alturas impassíveis da filosofia ou da literatura, ele quis ser ao mesmo tempo o contemporâneo de todos os homens, o vigia, a testemunha e o combatente das lutas de seu tempo. Mas esse tempo se foi. Já não existe. Os combates da segunda metade do século 20 se extinguiram”. No plano político, foram muitos os erros cometidos por Sartre nas causas em que

Pode um poeta ensinar literatura?

Conta-se que, certa vez, o escritor russo-americano Vladimir Nabokov (1899-1977) foi cogitado para um cargo de professor de literatura na Universidade Harvard. Tudo parecia certo quando o linguista, também russo, Roman Jakobson (1896-1982), que dava aulas lá, perguntou aos colegas: o próximo passo, então, será contratar um elefante para dar aula de Zoologia? Não sei se o episódio é verdadeiro. Parece-me pouco plausível que um sujeito de tanto talento como Jakobson, e que foi um dos pioneiros da análise estrutural da linguagem literária, tenha sido capaz de uma atitude tão mesquinha. Mas não é difícil imaginar tal cena num dos incontáveis departamentos de literatura, daqui ou de fora. Isso porque o estudo e o ensino da literatura instituiram-se na universidade na medida em que fundaram um campo próprio, habitado por especialistas, o que excluiu, de plano, os criadores (escritores e poetas). A questão de fundo aponta para uma pergunta simples, mas de difícil resposta: afinal, pode um e