Que eu me lembre, jamais tomei a palavra resistência em seu sentido politico, mas existencial. Há 25 anos, quando ainda vivia em Porto Alegre, cidade tão distante de onde estou hoje – e não era nem um pouco feliz por lá --, minha leitura de resistência de todas as noites era Em busca do tempo perdido , de Marcel Proust. Durante mil e tantas noites – e após um pesado e frustrante dia de trabalho – eu tentava decifrar aquelas páginas, aqueles parágrafos intermináveis, que eram sempre maiores do que a página. Na maioria das vezes, o sentido da frase proustiana me escapava por completo e era necessário voltar para reler e reler... O maior desafio ao leitor de Proust é a frase: orações subordinadas se sobrepõem a outras subordinadas, sempre entremeadas por longos apostos. Desejamos o ponto final, mas ele não chega. Proust sofria de asma, mas é o leitor que fica sem respirar. Em outras noites, o maior inimigo era o sono. De novo era preciso voltar a página para reler. Acostumei-me tanto a es
Crítica literária e cultural, por Mauro Souza Ventura