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Mostrando postagens de agosto, 2010

Vestígios de leitura

De uma velha anotação, datada de meados de 1985: “a linguagem é uma pele: esfrego minha linguagem no outro. É como se eu tivesse palavras ao invés de dedos, ou dedos na ponta das palavras”. As palavras roçam a superfície das coisas. E não conseguimos sair da linguagem, do mesmo modo que não é possível sar de nossa pele. Produzir um discurso “que não se enuncie em nome da Lei e/ou da Violência: cuja instância não seja nem política, nem religiosa, nem científica; que seja, de certa forma, o resto e o suplemento de todos esses enunciados. Como chamaríamos esse discurso? erótico, sem dúvida, pois ele tem a ver com o gozo”. ( Roland Barthes por Roland Barthes , p.91) Aforismo de domínio público: “Não é preciso ter esperança para empreender, nem ter sucesso para perseverar.” Como se fosse dito por uma personagem de romance: “seu desejo sempre foi produzir uma obra que estivesse desvinculada da universidade. Desconfia do didatismo, do ensino da literatura, da grade curicular, dos autores bons

Bienal maltrata o grande público

Frequento a Bienal do Livro há pelo menos uns vinte anos e venho observando que, desde as últimas cinco edições, os organizadores do evento empenham-se em atrair cada vez mais o grande público. Sendo assim, causa surpresa constatar a falta de infra-estrutura da Bienal para receber e tratar com um pouco de respeito as massas que acorrem ao Pavilhão do Anhembi, principalmente nos finais de semana. Essa falta de estrutura começa no transporte gratuito que liga o metrô ao local do evento. Ontem, sábado, havia filas gigantescas para chegar até o local dos ônibus. Era necessário esperar pelo menos 40 minutos para entrar no veículo. Era visível a falta de estrutura do local, o entorno do Terminal Rodoviário Tietê, para aglutinar tanta gente. Pais com crianças, idosos e pessoas de todas as idades - e classes sociais - espremiam-se para organizar a fila que os levaria ao ônibus gratuito (provável razão do descaso). Tudo isso sem a presença de qualquer fiscal do evento. Somente próximo ao ônibus

O velho livro e os novos suportes

A Flip terminou hoje e já na próxima sexta-feira inicia a 21ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo . Impossível não deixar de observar que o livro e a literatura estão no centro das atenções neste mês de agosto. Ao mesmo tempo, inspiram reflexões sobre o futuro desse velho suporte. Em Paraty, por exemplo, o historiador norte-americano Robert Darnton (foto) destacou a fragilidade das mídias digitais, que não resistem ao tempo em função das constantes mudanças tecnológicas, como os velhos disquetes, que só podem ser abertos por computadores antigos. Enquanto isso, os impressos permanecem vivos por séculos. Li certa vez numa entrevista o escritor italiano Umberto Eco comparar o livro impresso àquelas invenções básicas da humanidade, como os talheres, por exemplo. Assim como o livro, será difícil encontrar um substiututo para o garfo, a colher ou a faca. O livro é mesmo um dispositivo maravilhoso e quem aposta na sua morte terá que esperar muito tempo ainda. Em Não contem c

Humanismo, linguagem e revelação

Ainda não comentei aqui o surgimento, em março último, do Sabático , suplemento de O Estado de S. Paulo dedicado à literatura e à cobertura de livros em geral. Circula aos sábados e promete tornar-se um dos melhores cadernos de jornalismo cultural da atualidade. Sugere também que nem tudo está perdido quando o assunto é indústria cultural ou cobertura de livros. Além de reportagens, entrevistas, ensaios e seção de notas curtas sobre o mercado editorial, o Sabático tem duas colunas fixas dedicadas à crítica. Uma delas chama-se Prosa de Sábado, em que se alternam dois críticos de linhagens distintas: Silviano Santiado (foto), ligado à universidade, e Sérgio Augusto, crítico de jornal. Ambos são expoentes em suas áreas de atuação e, apesar de falarem de lugares opostos, a midia e a academia, suas colunas se aproximam em pelo menos um aspecto: a linguagem. Tanto um quanto outro escrevem em tom coloquial, mais próximo da crônica do que do artigo. Será necessário uma análise mais detida de s