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Mostrando postagens de setembro, 2010

“Liberte os urubu”

A frase acima é a pichação na instalação de Nuno Ramos feita ontem na abertura da 29ª. Bienal de Arte de São Paulo. De acordo com reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo , um rapaz invadiu a obra Bandeira Branca, que mantinha três urubus vivos como parte da instalação, e pichou a frase “liberte os urubu (sic)”. Após o ocorrido, houve confronto entre seguranças e manifestantes, que incluíam, além dos pichadores, representantes de entidades de defesa dos animais. Não quero entrar no mérito do uso de animais na instalação. Aliás, pelos que li nas reportagens, Nuno Ramos tinha autorização para fazer uso dos urubus, nem há notícia de maus tratos. A importância do fato está na reação do artista, que mandou limpar imediatamente a obra, apagando assim aquilo que considero uma oportuna intervenção dos pichadores na obra. Vejam só o que ele disse após ocorido: “Nesse lugar que é a Bienal, o outro aparece numa condição de agressão. Não estou chocado, não estou com raiva, vejo como alg

A liberdade à sombra das cerejeiras

A liberdade de expressão não é um valor exclusivo do Ocidente e os direitos do indivíduo podem ser um atributo de todas as sociedades. Esta máxima, contra a qual o relativismo cultural se insurge, parece cada vez mais válida no Irã. Fiquei pensando nisso ao ler a reportagem do jornalista Jon Lee Anderson na edição de setembro da Piauí . Anderson viajou a Teerã para entrevistar o presidente Mahmoud Ahmadinejad. Enquanto aguardava a entrevista, aproveitou para passear pelos bairros ao norte da capital do país. Foi à sombra de um pomar de cerejeiras, nas montanhas Alborz, que o autor de A queda de Bagdá e Che Guevara, uma biografia (ambos pela Editora Objetiva) se deparou com três membros do Movimento Verde. Defensor de reformas políticas e de comportamento no Irã, o movimento protagonizou as manifestações e protestos do ano passado, logo após as eleições (suspeitas de fraude) que reconduziram ao poder o atual presidente. Da reportagem de Anderson, publicada originalmente na revista The

Lima Barreto e a república das letras

Ele recusava a estilização e o uso puramente ornamental da erudição feito pelos seus contemporâneos, os bacharéis das letras. Ao mesmo tempo, compreendeu como poucos a dinâmica da corrupção e do aliciamento político de nossa nascente república. Refiro-me a Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922), romancista, cronista, contista e jornalista. Nascido no Rio de Janeiro, negro e de origem humilde, Lima Barreto passou sua curta e sofrida existência vivenciando um boicote sistemático a suas obras. Teve apenas cinco de seus livros publicados em vida, custeados por ele próprio, e nenhum deles obteve o reconhecimento devido. Ao contrário, sempre foi rotulado como um inadaptado, um perdido, um escritor de segunda categoria que teve a infelicidade de nascer num período de transição, que começa com a morte de Machado de Assis e termina com a Semana de Arte Moderna, em 1922. Sua honestidade intelectual e seu espírito livre lhe curstaram muito caro: jamais obteve a legitimação da crítica oficia