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Mostrando postagens de janeiro, 2011

Calvino e as apropriações da leitura

V ocê abre o livro e começa a leitura de um romance. Depois de umas trinta e poucas páginas, a leitura pega ritmo e você é fisgado pela trama. Mas eis que, ao virar a página para iniciar novo capítulo, percebe que já leu aquelas frases. Mais: parágrafos inteiros se repetem. Só então descobre que o livro veio com defeito: foi encadernado com os mesmos cadernos, as mesmas 32 páginas do início ao fim. Retorna à livraria onde o comprou e expõe o defeito do livro. Só então é informado de que o romance cuja leitura iniciada não era Se um viajante numa noite de inverno , do italiano Italo Calvino (deste, só havia a folha de rosto), mas Distanciando-se de Malbork , do polonês Tadeo Bazakbal. Agora você tem dois problemas: quer o livro de Calvino que julgou comprar e deseja também o de Bazakbal, pois foi fisgado pela história. Mais adiante vai descobrir que a editora misturou não só esses dois romances, mas outros, como Debruçado na borda da costa escarpada

O lirismo comedido na poesia de Telma Scherer

Telma Scherer: poesia e performance Ela é autora de dois livros de poemas -- Desconjunto (IEL, 2002) e Rumor da Casa (7 Letras, 2008), e acredita que poesia e performance caminham juntas. Ao colocar em prática esse preceito, Telma Scherer, jovem poetiza de Porto Alegre, acabou sendo impedida pela polícia de continuar a performance que fazia na tradicional Feira do Livro da capital gaúcha, em novembro do ano passado. Somente agora soube do ocorrido, ao ler entrevista da autora no blog mundo livro, no site de Zero Hora. Na ocasião, Telma sentou no meio de uma calçada da Praça da Alfândega, no centro de Porto Alegre, e, entre as barracas de livros e os famosos jacarandás que costumam florescer naquela época do ano, amarrou-se a uma casinha de cachorro enquanto distribuía suas contas pessoais às pessoas que passavam pela Feira. Intitulada “Não

Dívidas de leitura para 2011

N esta época pipocam na mídia as famosas listas dos melhores do ano que passou e as indicações de leitura para o ano que entra. Minha lista não é feita dos melhores disso ou daquilo, nem contempla autores novos ou consagrados. É uma lista de dívidas pessoais que tenho com certos livros que já deveria ler lido. S ão obras que encontrei abandonadas na babel de minha biblioteca. Pretendo lê-las no decorrer do ano, além, é claro, dos livros de trabalho (sempre teóricos) e dos inúmeros artigos acadêmicos, contingência também da profissão. São as seguintes, em ordem alfabética. Publico-as, aqui, para dividir com o leitor minhas inquietações. A escrita ou a vida, de Jorge Semprun Jorge Semprun O testemunho de um escritor espanhol que passou dois anos como prisioneiro do campo de concentração de Buchenwald, na Polônia. Semprun precisou de cinquenta anos para colocar no papel as atrocidades vividas pelos judeus nesta que foi a trágédia suprema do século 20