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Mostrando postagens de abril, 2011

Calvino e o “círculo do livro”

O escritor italiano Italo Calvino publicou Se um viajante numa noite de inverno em 1979. Já escrevi aqui que este é um romance sobre a escrita do romance. Fala de manuscritos perdidos, falsificações, editores, tradutores, estudiosos de literatura. Enfim, de todo aquele conjunto de agentes que compõe o campo literário. O trecho selecionado a seguir parece antever a era da ficção amarrada com o merchandising. Até onde sei, o fenômeno não ocorreu com o romance, mas integra “naturalmente” a produção das novelas de TV. A edição que possuo é do Círculo do Livro, editora que até a década de 1980 faturava alto com suas edições de best sellers vendidos por correspondência. Cheguei a comprar alguns livros por esse método, e ainda lembro que 99% do catálogo era de obras de auto-ajuda, romances açucarados e best sellers. As edições eram muito bem encadernadas e as capas coloridas, feitas para fisgar o leitor.  Que essa obra de Calvino tenha sido publicada pel

O primeiro parágrafo fisga o leitor

Sempre que estou numa livraria, em busca de um romance novo (ou antigo) para ler, me divirto lendo o primeiro parágrafo da história. Se o início de um romance me atrai, provavelmente vou continuar a lê-lo. Creio que todo escritor sabe que é preciso fisgar o leitor já nas primeiras linhas. Imagino uma antologia da literatura formada unicamente pelo primeiro parágrafo de romances, novelas e até contos. Transcrevo a seguir três inesquecíveis começos de histórias que li na juventude e que até hoje não cesso de reler. “O Coronel destampou a lata do café e notou que apenas restava uma colherinha de pó. Tirou a panela do fogo, jogou no chão de barro batido a metade da água e raspou de faca todo o interior da vasilha, até botar na panela o que restava, uma mistura de raspas com ferrugem. Sentado junto ao fogão, em atitude de confiada e inocente expectativa enquanto o café não fervia, o Coronel como que sentiu brotar de suas tripas cogumelos e lírios malignos