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Mostrando postagens de dezembro, 2011

Modesto balancete de uma viagem de pesquisa

Velhos bondes ainda estão em atividade Amanhã é meu último dia em Viena.   Hoje, o sol saiu convicto, como poucas vezes vi nesses dois meses em que aqui fiquei.   Aproveitei para fazer algumas compras e, ao contrário do que imaginava, quando caminhava pela cidade, não senti nem tristeza, nem nostalgia. Não fiz passeios de despedida. Nesse período, aproveitei tudo o que pude – e dentro do que estava ao meu alcance. Trabalhei e vivi a cidade no seu cotidiano. Conheci a cultura, os hábitos, os falares, os humores, misturei-me à população em geral. Sei que descortinei apenas um fragmento da cultura desta cidade, em que a germanização, que lhe é própria, cada vez mais se alimenta do multiculturalismo. **** Vim para fazer uma pesquisa documental e tive mais trabalho do que imaginava. Esse tipo de pesquisa, de natureza empírica, tem sempre algo de imprevisível. Passei a maior parte do tempo pesquisando em bibliotecas, fuçando arquivos, consultando material bibliográfico, conversando com e

À espera do Natal e na neve

Centro de Viena em clima de Natal Viena está em festa. Os jornais anunciam que nesta semana, impreterivelmente, a neve que já cobre as montanhas no Oeste dos Alpes, descerá o vale do Danúbio até a velha cidade dos Habsburgos. É só o que falta para o cenário natalino ficar completo, já que por todas as ruas por onde passo, as luzes de Natal dão o colorido típico ao consumismo desenfreado que contagia a todos nessa época do ano. As comemorações do Natal aqui iniciam já em meados de novembro, com a montagem de dezenas de “feirinhas” nos principais pontos da cidade. São quiosques com artesanato típico, comidas e bebidas quentes, que ficam lotados à noite e nos finais de semana. Aos sábados, na Mariahilfer Strasse, tradicional e chique rua de comércio – contrastando com a popular Favoriten Strasse, que é bem mais longe de Innerestadt – o trânsito precisa ser interrompido para dar escoamento à enorme massa de pessoas que se aglomera nas lojas e calçadas em busca de presentes ou mesm

De estrangeiros e de moradias: algumas impressões

Mariahilfer Strasse: padrão arquitetônico se repete pela cidade O que é ser estrangeiro? É ser reconhecido pelo sotaque ou pela pronúncia. É ser classificado com um simples olhar pelo tipo físico ou pela cor da pele. Ou então pelo modo como se ganha a vida, ou seja, pelo trabalho, e pelo círculo de amizades, pelos hábitos incorporados. Diante dessa realidade, o conceito de cidadania não consegue dar conta. O sujeito pode ter direitos iguais, mas continua sendo um estrangeiro aos olhos dos nativos de um determinado local. Pensei nisso após escutar a história de Draggo, um sérvio que mora há 16 anos em Viena. Fala alemão com um levíssimo sotaque eslavo. Deixou Belgrado com os pais e irmãos em 1995 para tentar a vida em Viena. Não voltou mais. Como ele, a quase totalidade dos empregados do hotel em que estou é de estrangeiros que chegam aqui e vão aprendendo o idioma no dia a dia, mas não têm nem terão condições de conseguir um emprego melhor. Percebo que a inclusão num determinado mei

Espetáculo de música sacra na Catedral

Catedral de Santo Estéfano, em Viena (Fonte: Wikipedia) O novo filme de Nanni Moretti, Habemus Papam , está em cartaz nos cinemas aqui. Em entrevista ao Wiener Zeitung ontem, o diretor explica que não quis fazer nenhuma crítica ao poder do Vaticano, nem abordar assuntos polêmicos como os casos de pedofilia ou as finanças da igreja. “Não me queixo da Igreja nesse filme”, declarou Moretti ao jornal. Sua preocupação foi, sobretudo, contar o processo de escolha de um Papa, o Conclave, a partir de um ângulo psicanalítico. O cinema já produziu muitos filmes sobre a Igreja e o Vaticano e não é esse o assunto que quero abordar aqui. O filme de Moretti me fez refletir sobre a antiga e sólida relação que a Áustria mantém com o catolicismo, desde os tempos do império austro-húngaro. Dia 08 foi feriado católico aqui, chamado de Imaculada Conceição (M aria Empfangnis , no original). A Catedral de Santo Estevão, ( Spephansdom ), que é a igreja matriz da Arquidiocese da Áustria, estava apinhada

Isto também é Viena

Em minhas caminhadas por Viena, encontro algumas imagens que, embora nada tenham de excepcionais, revelam aquele lado que toda cidade tem, mas que os cartões postais costumam deixar de fora. Ruas estreitas, longe do burburinho consumista dos turistas, pichações na parede. Deparei-me com essas imagens ontem, a caminho do Arquivo da Universidade de Viena, que fica num prédio muito antigo, longe do campus principal, que fica na parte nobre da cidade.  Uma das mais antigas da Europa, a Universidade de Viena foi fundada em 1365 e, hoje, tem 88 mil alunos.  Nessa parte, já próximo do Rio Danúbio, não há turistas e pode-se ver os vestígios desta velha cidade européia. As fotos, de amador, não tem nenhuma pretensão, a não ser a de revelar um pouco desse lado desconhecido da cidade, que descubro no meu cotidiano aqui. M.S.V.

Itinerário afetivo de uma pesquisa

Prédio da Biblioteca Nacional Austríaca, na parte central do  Hofburg Viena. Jamais me esquecerei desses dias em Viena, em que pesquiso os papéis de Otto Karpfen. Já são muitas as boas e fortes lembranças desse período, mas as bibliotecas que conheci aqui merecem uma atenção à parte. Como faço uma pesquisa documental, tenho ido a várias instituições, museus e arquivos da cidade. Em todos os lugares, seja em instituições públicas ou particulares, tenho sido muito bem atendido. A qualidade dos serviços à disposição do estudioso e do pesquisador é impressionante. Mas penso que nenhum outro local me encantou tanto quanto a Österreichische Nationalbibliothek , a Biblioteca Nacional Austríaca. Localizada em Heldenplatz – o encantador e enigmático Heldenplatz , sobre o qual ainda escreverei --, a ONB é o lugar ideal para se ler, estudar e pesquisar. Não apenas pelo acervo, cujos números desconheço, mas principalmente pelo ambiente. E uma biblioteca sem ambiente afasta os leitores. Fac