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Mostrando postagens de julho, 2013

Murakami, a corrida e a escrita

O escritor Haruki Murakami (Foto: Divulgação) Sabemos que todo escritor, seja ele um ficcionista, biógrafo ou ensaísta, para ser bem sucedido no que faz, precisa de talento. Mas isso não é tudo e podemos compensar a falta ou o pouco talento com duas outras qualidades: concentração e perseverança. “Felizmente essas duas disciplinas – concentração e perseverança – são diferentes do talento, uma vez que podem ser adquiridas e aperfeiçoadas por meio de treinamento”, escreve Haruki Murakami, em Do que eu falo quando eu falo de corrida . Neste relato autobiográfico, o escritor japonês, que já tem vários de seus romances publicados no Brasil (Editora Alfaguara), vale-se de sua experiência de corredor de longas distâncias (participou da maratona de Nova York, entre outras) para refletir sobre o ato de escrever, no seu caso, romances. Leio as observações de Murakami pensando em meus próprios desafios de escrita, no momento em que desenvolvo uma pesquisa de longa duração e que ainda est

Maneiras de ver/modos de ler

A imaginação é um caminho para o conhecimento. No Prefácio a Stendhal , o crítico francês Roland Barthes reafirma seus métodos e maneiras de ler uma obra: a sensação enquanto ponto de partida do conhecimento, que era também, segundo Barthes, o caminho de Stendhal. Primeiro é preciso se deixar deslumbrar pelo fenômeno; só depois vem o juízo, “que retoma a sensação, detalhando-a, e acaba por transformá-la em percepção, atividade verdadeira em que todo homem se empenha”. (Roland Barthes, Inéditos , Vol. 2 – Crítica, p. 137). Esse esquema interpretativo revela-se fértil e necessário, num momento em que o trabalho dos conceitos transformou-se em mera ferramenta com usos generalizados. Por mais de uma vez escutei a frase, dita por colegas: “A análise do discurso é ótima, pois resolve qualquer coisa”. De minha parte, tenho sempre procurado adotar o seguinte procedimento: é o objeto que funda o método, e não o contrário. Pode não resolver muito a situação, mas pelo menos diminui um pouco o

Comunicação e literatura em fricção

Será possível (re)aproximar a comunicação da literatura? Pois este é um dos propósitos da coletânea Pensamento comunicacional latino-americano através da literatura (São Paulo: Intercom, 2013). O livro reúne trabalhos apresentados XVI Colóquio Internacional da Escola Latino-americana de Comunicação, realizado de 08 a 10 de agosto de 2012, na UNESP de Bauru. O tema do encontro, “pensamento comunicacional latino-americano através da literatura”, foi concebido com a finalidade buscar o diálogo entre duas áreas que, por definição, estão em lugares opostos e, não raro, sempre em contenda ou, no mínimo, em fricção. O livro traz o melhor do que foi apresentado no Colóquio. A seguir, transcrevo trechos da Introdução ao livro, intitulada “Comunicação, ficção e a função integradora dos saberes” (p.15-21): “Dividido em quatro partes, inicia com uma homenagem a Jorge Fernández feita por seu filho, o equatoriano Marcelo Fernández, seguida por artigo de José Marques de Melo, que destaca a traj