domingo, 24 de janeiro de 2010

Bolaño e os dias de 1978


Os personagens são identificados apenas com letras: B, o jovem U e a mulher de U. O enredo se resume a encontros e desencontros de exilados chilenos na Europa, mais precisamente em Barcelona, na Espanha. O ano é 1978, B e U são conterrâneos que agora se vêem como estranhos.

Uma reunião de amigos no apartamento de um deles desencadeia os conflitos, reabre as feridas. Conversas sussurrantes, desejo de retornar ao Chile, suicídio. O relato de Roberto Bolaño no conto “Dias de 1978”, incluído na coletânea Putas assassinas (Companhia das Letras, trad. de Eduardo Brandão) expõe as fraturas existenciais de uma geração que lutou por ideais de uma sociedade menos desigual e mais democrática no Chile e cujas vidas foram sucumbindo lentamente no exílio, restando apenas medo e rancor.
Um conto perturbador, até mesmo para aqueles que não viveram os sonhos e as atrocidades daquele período.
M.S.V.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Vida e opiniões de Elizabeth Costello

Um verbete
Costello, Elizabeth. Escritora australiana nascida em Melbourne em 1928. Entre os anos 1951 e 1963 viveu na Inglaterra e na França. Tornou-se mundialmente conhecida a partir do romance A casa da rua Eccles, publicado em 1969, o quarto de sua carreira. Desde então, seu prestígio junto à crítica só tem aumentado. É convidada com frequência para proferir palestras sobre literatura e já existe em torno de sua obra uma pequena indústria crítica. Em Albuquerque, Novo México, nos Estados Unidos, fica a sede da Sociedade Elizabeth Costello, que se dedica a estudar e divulgar sua obra e que edita o Boletim Elizabeth Costello. Seus romances The Golden Notebobook e The Story of Christa T. foram considerados pela crítica como inovadores da literatura feminista. Em 1995 foi agraciada com o Prêmio Stowe, um dos mais importantes dos Estados Unidos e atribuído a cada dois anos a um escritor de destaque no cenário mundial. Na ocasião, ela esteve no Altona College, em Williamstown, Pensilvânia, para receber o prêmio Stone, no valor de cinquenta mil dólares, e uma medalha de ouro.

Uma opinião
O romance na África, segundo Costello: “O romance inglês é escrito em primeiro lugar por ingleses para ingleses. É isso que faz dele o romance inglês. O romance russo é escrito por russos para russos. Mas o romance africano não é escrito por africanos para africanos. Os romancistas africanos podem escrever sobre a África, sobre experiências africanas, mas me parece que estão olhando por cima do ombro o tempo todo enquanto escrevem, para os estrangeiros que lerão seus livros. Gostem ou não, eles aceitaram o papel de intérpretes, interpretando a África para seus leitores. No entanto, como é possível para alguém explorar um mundo em toda a sua profundidade se, ao mesmo tempo, precisa explicar o que está fazendo para uma classe de alunos ignorantes?” (Elizabeth Costello, p. 59)

Primeiras impressões
O verbete e a opinião acima são ficções e foram montados a partir dos dados fornecidos pelo narrador de Elizabeth Costello, romance de J. M. Coetzee, publicado no Brasil em 2004 (Ed. Companhia das Letras, trad. de José Rubens Siqueira) e que leio agora. Uma obra ficcional que se vale de expedientes narrativos próprios da escrita acadêmica com a finalidade de lançar um olhar crítico sobre a “indústria” que se forma em torno da figura do escritor. A narrativa lembra em muitos momentos Borges, mas não pelo estilo e sim pela proposta de misturar ficção com artigo crítico. O verbete e a opinião acima são exemplos dessa estratégia textual, sobre a qual voltarei a falar.
M.S.V.

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