Um verbeteCostello, Elizabeth. Escritora australiana nascida em Melbourne em 1928. Entre os anos 1951 e 1963 viveu na Inglaterra e na França. Tornou-se mundialmente conhecida a partir do romance A casa da rua Eccles, publicado em 1969, o quarto de sua carreira. Desde então, seu prestígio junto à crítica só tem aumentado. É convidada com frequência para proferir palestras sobre literatura e já existe em torno de sua obra uma pequena indústria crítica. Em Albuquerque, Novo México, nos Estados Unidos, fica a sede da Sociedade Elizabeth Costello, que se dedica a estudar e divulgar sua obra e que edita o Boletim Elizabeth Costello. Seus romances The Golden Notebobook e The Story of Christa T. foram considerados pela crítica como inovadores da literatura feminista. Em 1995 foi agraciada com o Prêmio Stowe, um dos mais importantes dos Estados Unidos e atribuído a cada dois anos a um escritor de destaque no cenário mundial. Na ocasião, ela esteve no Altona College, em Williamstown, Pensilvânia, para receber o prêmio Stone, no valor de cinquenta mil dólares, e uma medalha de ouro.
Uma opiniãoO romance na África, segundo Costello: “O romance inglês é escrito em primeiro lugar por ingleses para ingleses. É isso que faz dele o romance inglês. O romance russo é escrito por russos para russos. Mas o romance africano não é escrito por africanos para africanos. Os romancistas africanos podem escrever sobre a África, sobre experiências africanas, mas me parece que estão olhando por cima do ombro o tempo todo enquanto escrevem, para os estrangeiros que lerão seus livros. Gostem ou não, eles aceitaram o papel de intérpretes, interpretando a África para seus leitores. No entanto, como é possível para alguém explorar um mundo em toda a sua profundidade se, ao mesmo tempo, precisa explicar o que está fazendo para uma classe de alunos ignorantes?” (
Elizabeth Costello, p. 59)
Primeiras impressõesO verbete e a opinião acima são ficções e foram montados a partir dos dados fornecidos pelo narrador de
Elizabeth Costello, romance de J. M. Coetzee, publicado no Brasil em 2004 (Ed. Companhia das Letras, trad. de José Rubens Siqueira) e que leio agora. Uma obra ficcional que se vale de expedientes narrativos próprios da escrita acadêmica com a finalidade de lançar um olhar crítico sobre a “indústria” que se forma em torno da figura do escritor. A narrativa lembra em muitos momentos Borges, mas não pelo estilo e sim pela proposta de misturar ficção com artigo crítico. O verbete e a opinião acima são exemplos dessa estratégia textual, sobre a qual voltarei a falar.
M.S.V.