
Já escrevi neste espaço que, no momento em que Otto Maria Carpeaux (1900-1978) inicia sua produção no Brasil, ou seja, na década de 40, o campo da crítica literária atravessa um período de redefinição de sua própria existência e função. Uma fase de transição que vai da crítica não especializada, exercida então por profissionais de diversas áreas que escrevem para os jornais, ao surgimento dos primeiros críticos oriundos da universidade. Seja nos rodapés de página ou em colunas fixas, os críticos diletantes, cujo principal expoente foi Álvaro Lins, predominam nos anos 1940 e 50, quando surgem os críticos com formação mais especializada, obtida na universidade.
Ora, a crítica de Carpeaux situa-se na confluência entre os dois modelos acima citados, apresentando característica de ambos. A própria biografia de Carpeaux o coloca a meio caminho entre o diletante (era formado em Química e Física) e o crítico com formação específica em ciências humanas (cursou Filosofia e Sociologia em Paris e Literatura Comparada em Nápoles).
Por outro lado, razões de sobrevivência o levaram ao exercício da crítica profissional e a escrever com regularidade na imprensa. Nesse ponto poderíamos enquadrá-lo no contexto da velha crítica dos rodapés, juntamente com nomes como Tristão de Athayde, Sérgio Buarque de Holanda, Sérgio Milliet e outros, além do já citado Álvaro Lins.
Assim, não seria exagero afirmar que o percurso ensaístico de Carpeaux desloca-se entre os dois pólos da crítica enquanto gênero: do impressionismo dos homens de letras à abordagem teórica que será a marca da crítica acadêmica que se institui neste período.
M.S.V.