sábado, 21 de maio de 2011

Existem leitores para 600 páginas?

Na próxima semana chega às livrarias o novo romance de Jonathan Franzen (foto), Liberdade. São mais de 600 páginas. É claro que vem aclamado pela crítica (ela é parte do mercado) e credenciado pelo suposto sucesso junto aos leitores norte-americanos. Sérgio Augusto, em sua coluna do suplemento Sabático, de O Estado de S. Paulo, afirma que o “romance pode ser lido como um folhetim”. Duvido. Ainda existirão hoje leitores para 600 páginas? Quem se deixará levar por uma “história alegórica em torno de uma família do Meio Oeste norte-americano”?

O gênero romance tem uma longa tradição e sua longevidade esta associada à sua capacidade de renovação. Já tivemos Balzac e Tolstoi com seus calhamaços, suas sagas e painéis de época. E já tivemos Proust com seus parágrafos intermináveis. Agora ficamos sabendo que Franzen escreve ao estilo do século 19.

Lançado no ano passado, Liberdade cobre três décadas, conta a saga de uma família e aborda temas tãso atuais como a guerra do Iraque, a crise financeira de 2008 e até a campanha de Obama à presidência. Na ocasião, a apresentadora de TV Oprah Winfrey não poupou elogios ao livro, enquanto sua produção distribuía exemplares de Liberdade à platéia.  "Eu aposto que Freedom, de Jonathan Franzen, acabará sendo para vocês como é para mim: um dos melhores romances que vocês já leram", disse ela.

Ao explorar um contexto histórico recente, Franzen revela seu apego ao factual, que costuma transformar a ficção num artefato documental. Nossa época, aliás, tem um forte apego ao documental. Talvez seja essa a chave para ler o novo romance de Franzen. E de seu “aclamado” sucesso de público. Mas quem se habilita hoje, no Brasil, a enfrentar as 600 páginas de uma saga familiar? Num único volume? Cada vez mais prefiro as narrativas curtas, os enredos rarefeitos, os personagens esboçados.
M.S.V. 

domingo, 8 de maio de 2011

Especialização e cultura generalista


A crescente e inevitável especialização do conhecimento tem cada vez mais confinado a produção do saber na esfera acadêmica. Num mundo de especialistas, parece causa perdida insistir no interesse geral e na cultura geral. Principalmente por que essa ideia pode sucumbir com facilidade na simplificação operada pela grande mídia, sempe mais interessada no acontecimento e na audiência do que na problematização das questões.

Os efeitos da fragmentação do conhecimento e da lógica disciplinar que rege a vida acadêmica – e essa é uma tendência mundial – já são visíveis tanto na linguagem das ciências humanas e sociais, quanto no viés epistemológico que as inspira: o modelo de produção das ciências exatas. Nossas pesquisas hoje resultam em textos relatoriais, em que o estilo é (mal) visto como um resquício do ensaismo que um dia era a marca das humanidades.

A pergunta que precisa ser feita diante desse estágio do nosso conhecimento é a seguinte: é possível defender uma cultura generalista num mundo de especialistas? Penso que sim. E acredito também que essa discussão passa pela linguagem, pelo texto.
M.S.V.

  O Martelo, de Manuel Bandeira . As rodas rangem na curva dos trilhos Inexoravelmente. Mas eu salvei do meu naufrágio Os elementos mais cot...