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O escritor chileno Roberto Bolaño |
Dia desses perguntei aos meus alunos se costumavam ler romances. Qual não foi minha surpresa ao constatar que mais da metade da classe respondeu de forma positiva à pergunta. Percebi então que a resposta de meus alunos contrariava um discurso muito comum nos meios e nas mídias intelectualizadas, que insiste em afirmar que o romance não é mais culturalmente relevante.
A resposta de meus jovens alunos contrariava também o argumento do crítico norte-americano Lee Siegel, que, em artigo (que acabo de ler) na última edição da revista Serrote, insiste na tese do fim da relevância cultural desse gênero. “Pergunte a si mesmo quando foi a última vez que leu um romance que o comoveu como um filme o comove”, escreve ele.
De minha parte, respondo com tranquilidade: nos últimos anos, as obras de J. M. Coetze e Roberto Bolaño têm me marcado mais do que qualquer outra experiência artística. Tão forte, comovente e chocante tem sido a leitura dos romances desses dois autores que preciso alterná-la com mergulhos em portos seguros da literatura, ou seja, nas tranqüilizantes releituras daqueles autores que são nossos velhos conhecidos, como os contos de Borges e as narrativas de Kafka. Se isso não é relevância cultural, então o que será?
Creio que, quando fala de relevância cultural, Siegel está pensando em audiência, recorde de bilheteria, repercussão junto ao grande público. Ora, não dá para comparar um romance como Liberdade, de Jonathan Franzen (em cujas mais de 600 páginas continuo mergulhado, não obstante as interrupções sucessivas que preciso fazer), com Avatar, só pra ficar em dois exemplos recentes produzidos nos EUA. A resposta de meus alunos é eloquente e motivo de esperança: vida longa para o romance.
M.S.V.