terça-feira, 3 de julho de 2012

Na semana da Flip, a literatura de Jonathan Franzen


Franzen, capa da Time

Nesta quarta-feira começa a décima edição da Flip, a Festa Literária de Paraty. Embora o escritor homenageado seja o nosso maior poeta, Carlos Drummond de Andrade, boa parte das atenções devem se dirigir para a presença de três dos mais importantes escritores em atividade hoje. Estarão presentes em Paraty o norte-americano Jonathan Franzen, o inglês Ian McEwan e o espanhol (na verdade, catalão) Enrique Vila-Matas. Três vozes bem distintas uma da outra, mas extremamente significativas da literatura praticada neste século XXI.
Percorro livrarias em São Paulo e vejo que os livros de Franzen inundam as prateleiras. Até uma coletânea de artigos dele (“Como ficar sozinho?”) foi traduzida. Franzen já está no Brasil e, pelo que leio, deseja conhecer um pouco do país após seus compromissos na Flip. Quer visitar a Bahia e o Pantanal, onde pretende fotografar pássaros, seu hobby favorito.
Aproveito o fait-divers em torno de Franzen e retomo a leitura interrompida de Liberdade, romance lançado no final do ano passado e que chegou aclamado como o “livro do ano e do século”. Não é nada disso. Já li resenhas comparando Liberdade a Guerra e Paz, de Tolstoi. Um enorme exagero, talvez motivado pelo fato de que Patty, a protagonista, aparece lendo o romance de Tolstoi... Isso não basta. Aliás, há muita estratégia de marketing na visibilidade de Franzen. A narrativa de Liberdade é longa demais, há digressões demais.
Para viver de sua atividade, um escritor precisa de mercado. Romances longos, como este, que tem 600 páginas, são bons para o mercado editorial, pois o preço de capa é maior, assim como os lucros do autor, que precisa viver disso. Considerando que um escritor de qualidade (como é o caso de Franzen) compete com inimigos poderosos, como a indústria do audiovisual, a internet e com o colapso do hábito de leitura, nada mais justo que ele se preocupe com a economia de seu trabalho. Um livro de 100 páginas gera lucros ínfimos para todo o circuito de produção editorial.
Mas do ponto de vista exclusivamente narrativo, me parece inegável que Liberdade poderia ter a metade do seu tamanho. Uma crítica efetivamente isenta de uma obra precisa separar todo esse aparato mercadológico que circunscreve o lançamento de um produto no mercado da obra em si. Tinha razão Pierre Bourdieu quando escreveu que a indústria de bens simbólicos procura sempre esconder a economia que faz o circuito funcionar.
Em Liberdade, Franzen tenta retomar a velha tradição do romance social, bem ao gosto do leitor do século 19 e 20, antes que as vanguardas operassem a viravolta narrativa. O cenário do livro é o Meio Oeste dos EUA, onde se passam histórias familiares contemporâneas recheadas de relacionamentos confusos, sentimentos difusos, amizade, paixão, traição... Como numa série de TV.
Mas uma coisa não se pode negar: ele escreve muito bem. O livro tem estilo ágil, vocabulário moderno, linguagem despojada, temas do dia-a-dia, como ambientalismo, antidepressivos, crise financeira. Leio 30 páginas de uma só vez. Desta proeza somente são capazes os grandes narradores. Penso em Stendhal, e na Cartucha de Parma, cuja leitura alterno com o romance de Franzen.
M.S.V.

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