Conta-se que, certa vez, o escritor russo-americano Vladimir Nabokov (1899-1977) foi cogitado para um cargo de professor de literatura na Universidade Harvard. Tudo parecia certo quando o linguista, também russo, Roman Jakobson (1896-1982), que dava aulas lá, perguntou aos colegas: o próximo passo, então, será contratar um elefante para dar aula de Zoologia?
Não sei se o episódio é verdadeiro. Parece-me pouco plausível que um sujeito de tanto talento como Jakobson, e que foi um dos pioneiros da análise estrutural da linguagem literária, tenha sido capaz de uma atitude tão mesquinha.
Mas não é difícil imaginar tal cena num dos incontáveis departamentos de literatura, daqui ou de fora. Isso porque o estudo e o ensino da literatura instituiram-se na universidade na medida em que fundaram um campo próprio, habitado por especialistas, o que excluiu, de plano, os criadores (escritores e poetas).
A questão de fundo aponta para uma pergunta simples, mas de difícil resposta: afinal, pode um escritor de ficção ou um poeta tornar-se um exímio professor de literatura? Pode! E o contrário, é possível? Acho muito difícil.
Ocorre-me outra pergunta, correlata: pode um assassino escrever um bom poema? Pode! E pode um elefante ensinar Zoologia? Não! Ora, Zoologia é uma ciência; literatura não é.
M.S.V.
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Um comentário:
Já estão dizendo nos corredores da faac que ferreira gullar e um chimpanzé estão chegando para dar conta do buraco na grade de professores – ano eleitoral, diga-se de passagem – e de inúmeras “licenças-prêmio” que surgem todo ano. Resta saber quais aulas cada professor dará e, assim, testar na prática o tão sonhado experimento.
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