domingo, 28 de novembro de 2010

O Fidel Castro da literatura brasileira


De toda esta polêmica envolvendo o Jabuti de 2010, que deu a Leite Derramado, de Chico Buarque, o prêmio de melhor ficção do ano, em detrimento do primeiro lugar na categoria, Se eu fechar os olhos agora, de Edney Silvestre, duas constatações me parecem inevitáveis.

A primeira delas é a acertada crítica de Ségio Machado, o editor da Record, de que o Jabuti sucumbiu à era do escritor celebridade. “Se eu amanhã publicar um livro infantil da Xuxa, é capaz que eu ganhe o infanto juvenil. Esse prêmio, do jeito que está sendo disputado, poderia ser feito na plateia do Faustão. Ou do Silvio Santos. Porque não tem absolutamente nenhum critério”, declarou à Folha de S. Paulo.

A segunda constatação diz respeito à figura de Chico Buarque, cuja consagração no campo da música (inquestionável, diga-se) acabou por contaminar o julgamento de sua produção no campo da literatura. Transformado em grife, livro de Chico é livro de Chico, e isso independe do mérito.

Quem ousaria, por exemplo, dizer que o título desse livro é muito ruim? Acho, de fato, Leite derramado uma péssima ideia para título de romance. Mas é um título de Chico. Não se pode criticá-lo, do mesmo modo que não se pode criticar Fidel Castro.

É evidente que, em toda essa história, a responsabilidade não é de Chico, mas dos aduladores acriticos que ele encontrou no seu caminho desde o dia em que decidiu fazer carreira de escritor. Inquestionável, absolvido pela história que construiu, creio que Chico Buarque se transformou numa espécie de Fidel Castro da literatura brasileira.
M.S.V.

Nenhum comentário:

  O Martelo, de Manuel Bandeira . As rodas rangem na curva dos trilhos Inexoravelmente. Mas eu salvei do meu naufrágio Os elementos mais cot...