sábado, 3 de dezembro de 2011

Itinerário afetivo de uma pesquisa

Prédio da Biblioteca Nacional Austríaca, na parte central do Hofburg

Viena. Jamais me esquecerei desses dias em Viena, em que pesquiso os papéis de Otto Karpfen. Já são muitas as boas e fortes lembranças desse período, mas as bibliotecas que conheci aqui merecem uma atenção à parte. Como faço uma pesquisa documental, tenho ido a várias instituições, museus e arquivos da cidade. Em todos os lugares, seja em instituições públicas ou particulares, tenho sido muito bem atendido. A qualidade dos serviços à disposição do estudioso e do pesquisador é impressionante.
Mas penso que nenhum outro local me encantou tanto quanto a Österreichische Nationalbibliothek, a Biblioteca Nacional Austríaca. Localizada em Heldenplatz – o encantador e enigmático Heldenplatz, sobre o qual ainda escreverei --, a ONB é o lugar ideal para se ler, estudar e pesquisar. Não apenas pelo acervo, cujos números desconheço, mas principalmente pelo ambiente. E uma biblioteca sem ambiente afasta os leitores.
Fachada do Salão Barroco, biblioteca
histórica construída em 1723
Está sempre cheia de estudantes de todas as idades, mas há muitos jovens, e confesso que nunca vi tantos estudando ao mesmo tempo. Na enorme Sala de Leitura, todos ficam em suas mesas, com luzes individuais e cadeiras confortáveis, com seus cadernos e notebooks, estudando para provas, fazendo tarefas. Enfim, um ambiente tão cheio de vida que nem parece uma biblioteca. Sempre tive aversão a bibliotecas vazias, que dão tédio e tiram a vontade de estudar. Na ONB isso não existe. Não sei explicar. Talvez sejam apenas impressões de estrangeiro. Mas há várias semanas que freqüento o local e a cena é a mesma.
Quando saio, por volta das 20 horas (o que já é noite alta, pois desde meados de novembro tem escurecido às 16 horas), e atravesso a enorme praça de Heldenplatz, com as luzes do Hofburg todas acesas, tenho a sensação de que jamais esquecerei esse cenário. Nem a temperatura próxima de zero é capaz de esfriar a emoção que sinto quando deixo esse local tão cheio de significado, tão prenhe de história. Foi aqui, por exemplo, que Hitler, em 15 de março de 1938, fez o discurso em que anunciou a anexação da Áustria pela Alemanha.
A Biblioteca ocupa posição central no imenso prédio que compõe o Hofburg e isso também me parece significativo do apreço que este país tem pela cultura, pelos livros, pelos seus documentos, enfim, pelos seus estudantes. Tenho observado que a Biblioteca talvez seja o único local turístico da cidade em que os turistas não são maioria, o que mostra que o lugar é frequentado pelos moradores. E, é claro, por estrangeiros em busca de conhecimento.
M.S.V.

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