sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Do Holocausto a Gaza, em Berlim

Potsdamer Platz, no centro de Berlim
Na terça-feira passada entrei numa estação de metrô em Berlim. Estudei brevemente o mapa, disponível em todos os cantos da cidade, e fui perguntando... De resposta em resposta, cheguei à Potsdamer Platz, a imponente estação de metrô encravada no centro da cidade. Meu objetivo era chegar à Avenida Unter den Linden e seus famosos cartões postais, como o Portão de Brandenburgo, o Tiergarten e o Memorial do Holocausto.
Mas antes foi preciso tomar um café. Sou um turista sem planos, sem mapa, sem guia. Acredito que é assim que se conhece uma cidade. Mas quando cruzei a esquina da Leipziger Strasse com a Eberstrasse e dei de cara no Muro, ou com o que restou dele, fui tomado de emoção. Mesmo sabendo que aquilo era apenas um souvenier, uma medalha que os alemães exibem para o mundo, não pude deixar de olhar com atenção para aquele pedaço de concreto borrado de pixações, colocado num pedestal no meio da calçada.
O que resta do Muro é exibido como uma medalha aos turistas
Estava diante do Muro. Aquele mesmo muro que um dia foi o símbolo fatídico de um igualitarismo utópico, e que acabou desabando em nossas cabeças. Agora o Muro é só uma fotografia na parede, ou melhor, na calçada.
Mas o que doeu mesmo foi ver dezenas e dezenas de turistas passeando pelo Memorial do Holocausto, como se fosse um parque. Localizado à frente do Tiergarten, um bosque belíssimo na Unter den Linden, o Memorial do Holocausto estava cheio de turistas, todos sentados sobre os túmulos, uma sucessão de caixões de concreto cinza, que simbolizam os judeus mortos nos campos de concentração. Conversas, fotos, gente descansando de seu turismo-consumo, outros namorando nos corredores cinzentos daquele monumento em memória do genocídio, lanches, mais fotos.... Confesso que a imagem me entristeceu. Não fiz foto nenhuma do Memorial do Holocausto.
Quando olhava aquilo tudo, pensei em Gaza. Pensei nos palestinos, que também precisam de um Memorial, que também foram e continuam sendo vítimas de um genocídio. E pensei nas inúmeras Gazas que compõem o sofrido continente africano. Auchwitz, Gaza, Ebola, Berlim. Voltei para o hotel pensando que não posso retornar ao Brasil sem antes conhecer a Berlim que se esconde para além da Unter den Linden: a parte oriental da cidade, que começa em Alexander Platz.

M.S.V.

Um comentário:

FOTOS disse...

Berlim é magnifica. Estive na Alemanha durante 22 dias (férias Junho/Julho 2014). Fui para várias cidades, entre elas Oberteuringen, Friedrichshafen, Constanza, Weingarten, enfim... nunca fui tão bem recepcionado como na Alemanha. Esse povo sabe o que é ser humilde, como tratar bem o próximo, como ser humano, sim humano, num lugar onde já passaram por guerras... Alemanha é sensacional. Ótimo relato, Mauro!

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