É preciso um talento incomum para transformar uma história de amor numa narrativa esteticamente convincente. Carta a D., de André Gorz (Trad. Celso Anzann Jr., Annablume/CosacNaify, 80 págs. R$ 29,00) consegue sair-se muito bem deste desafio.
Movido pelo desejo de recontar a trajetória de uma relação de quase seis décadas para compreender o sentido de sua própria existência, o narrador (autobiográfico) se lança na difícil tarefa de elaborar o passado. No entanto, o ato de lembrar não tem o sentido de culto ao passado: o que se vê são as lembranças iluminando o presente.
E sem preocupações de ordem cronológica. Uma lembrança puxa outra, num fluxo por vezes aleatório, mas sempre comovente. Como o trecho que descreve o momento em que ele e sua mulher de toda a vida, Dorine, se conheceram, na Paris do pós-guerra.
“Nossa história começou maravilhosamente, quase um amor à primeira vista”, escreve. “Depois da terceira ou quarta saída, eu afinal beijei você”, relembra Gorz, em meio a relatos sobre as dificuldades para sobreviver e, mais ainda, viver como intelectual numa cidade como Paris, sem ter relações com pessoas influentes.
André Gorz e Dorine viveram juntos durante quase seis décadas “obsessivamente dedicados um ao outro”. Ao recontar a história desse amor e dessa comunhão incomuns, Gorz revela sua crença na escrita enquanto mecanismo de compreensão do sentido de uma vida.
Escrita esta que, em sua concretude, promete ser um abrigo contra o esquecimento e contra a morte. Ao que Gorz conclui: “eu lhe escrevo para entender o que vivi, o que vivemos juntos”.
M.S.V.
Movido pelo desejo de recontar a trajetória de uma relação de quase seis décadas para compreender o sentido de sua própria existência, o narrador (autobiográfico) se lança na difícil tarefa de elaborar o passado. No entanto, o ato de lembrar não tem o sentido de culto ao passado: o que se vê são as lembranças iluminando o presente.
E sem preocupações de ordem cronológica. Uma lembrança puxa outra, num fluxo por vezes aleatório, mas sempre comovente. Como o trecho que descreve o momento em que ele e sua mulher de toda a vida, Dorine, se conheceram, na Paris do pós-guerra.
“Nossa história começou maravilhosamente, quase um amor à primeira vista”, escreve. “Depois da terceira ou quarta saída, eu afinal beijei você”, relembra Gorz, em meio a relatos sobre as dificuldades para sobreviver e, mais ainda, viver como intelectual numa cidade como Paris, sem ter relações com pessoas influentes.
André Gorz e Dorine viveram juntos durante quase seis décadas “obsessivamente dedicados um ao outro”. Ao recontar a história desse amor e dessa comunhão incomuns, Gorz revela sua crença na escrita enquanto mecanismo de compreensão do sentido de uma vida.
Escrita esta que, em sua concretude, promete ser um abrigo contra o esquecimento e contra a morte. Ao que Gorz conclui: “eu lhe escrevo para entender o que vivi, o que vivemos juntos”.
M.S.V.
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