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Mostrando postagens de janeiro, 2013

O escrevente aos cinqüenta (o que faz um escritor?)

Das memórias de Elias Canetti: “Numa cidade como Salzburg, as pessoas são receptivas aos escritores”. Mas o que faz de um escritor um escritor? Raduan Nassar escreveu um ou dois livros e abandonou a literatura. Tornou-se canônico. E há escritores que permanecem vivos mais por sua atuação na mídia do que por suas criações. Tornam-se marketing. *** Planejou durante muitos anos uma trajetória a ser construída com a publicação regular, contínua de seus projetos de escrita. A vida acadêmica e o excesso de trabalho o conduziram a outra trilha. Depois de publicar um primeiro livro de ensaios em 1995 e de voltar em 2002 com um estudo sobre um importante crítico literário, não conseguiu dar continuidade a uma trajetória que apenas se esboçara. Passaram-se, desde então, dez anos, gastos com a inserção na vida acadêmica, as aulas na graduação e na pós-graduação, o redirecionamento de pesquisas e de publicações, a orientação de alunos, a gestão, as guerras, a infâmia, os aborrecimentos. É ass

O escrevente aos cinqüenta (a maldição de Montano)

Abre uma página de O mal de Montano , de Henrique Vila-Matas. Seus olhos passeiam pelas obsessões literárias do escritor catalão, mas seu pensamento se perde no quarto escuro da memória, este “baú de espantos” em que se desenha o malogro existencial e material de seus projetos de escrita. “O primeiro malogro está ligado à tardividade de minha formação, e que me constitui enquanto ser”, recorda. O segundo malogro é mais palpável: diz respeito às condições materiais da vida. Obrigado a ganhar o sustento, primeiro no jornalismo, depois na sala de aula, seus projetos de escrita sempre estiveram submetidos ao aspecto instrumental dessas atividades. “Haverá tempo?”, pergunta. *** Retorna a esse livro que é em tudo um incômodo, a começar pelo título: Crítica e verdade , de Roland Barthes. Este pequeno volume, que comprou quando tinha 21 anos, sempre exerceu sobre ele um fascínio e uma resistência à leitura. Folheia o livro e constata que há vários trechos sublinhados, marcas de leitur