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Mostrando postagens de outubro, 2010

José Castello, ou a crítica enquanto crônica

  S empre fui um leitor voraz de crítica e tenho uma predileção especial por estudar os modos e as manhas deste gênero tão necessário quanto suspeito.  Minhas leituras sempre incluíram os críticos ao lado dos ficcionistas, e creio mesmo que a literatura e a arte não podem dispensar esse antigo trabalho da interpretação. Dia desses, ao escrever sobre as razões da crítica, procurei explicar os motivos que levam tantos autores – e mesmo o público leitor – a encarar com suspeita a explicação do texto literário e a análise científica de obras artísticas. Outro fator de resistência à crítica pode estar na idéia de transcendência da obra, de algo que não pode ser compreendido ou decifrado pelo conhecimento racional. Isso sem falar na linguagem da crítica, que se tornou especializadíssima em função de sua institucionalização e acadêmica por contingências financeiras. Afinal, do que mais poderá se manter um crítico hoje que não vive de jornalismo, senão do emprego de professor? O fato é qu

Bolaño e a revolução da literatura

Os poucos leitores deste blog vão se perguntar sobre os motivos deste novo post sobre Roberto Bolaño. Nos últimos vinte anos, poucos escritores me incomodaram tanto quanto o autor de Os detetives selvagens. Não se pode falar de narrativas ficcionais contemporâneas sem fazer referência ao escritor chileno. Em Estrela distante (Companhia das Letras, 2009, trad. de Bernardo Azjenberg), há um personagem que aparece quase no final do livro e que é uma espécie de porta-voz da enigmática “seita dos escritores bárbaros”. Chama-se Raoul Delorme, um ex-soldado que, em 1968, trabalhava como zelador num prédio do centro de Paris. Enquanto a capital francesa era tomada pelas barricadas do desejo e da revolução por estudantes que mais tarde se tornarão os futuros intelectuais e romancistas do país, Delorme tranca-se em seu cubículo de zelador e começa a dar forma à sua nova literatura. Essa literatura está amparada, segundo ele, em dois procedimentos simples: confinamento e leitura. A seita d

Vargas Llosa: o indivíduo contra o poder

Mario Vargas Llosa é o prêmio Nobel de Literatura de 2010. O resultado, anunciado pela Academia Sueca na última quinta-feira, dia 7, não deixou de surpreender, já que o escritor peruano tem assumido, nas duas últimas décadas, posições públicas cada vez mais distanciadas daquilo que alguns setores ainda insistem em denominar de “posição de esquerda”, e que o Nobel de Literatura não raro costuma consagrar com suas premiações. A esse sentimento veio somar-se um segundo, que me remeteu de imediato a uma época já longínqua, em que, ainda garoto, descobria a literatura latino-americana. Junto ao colombiano Gabriel García Márquez (também Nobel) e ao argentino Jorge Luis Borges (além-Nobel), o escritor peruano, autor de A Casa Verde , Tia Júlia e o escrevinhador e Conversa na Catedral , entre outros, foi um capítulo fundamental de minha formação como leitor. Mas, a partir dos anos 90, deixei de ler a ficção de Vargas Llosa. Troquei-a pelos seus artigos na imprensa, e, sobretudo, pelos seus e