O escritor W. G. Sebald (1944-2001) transita entre os gêneros. Em Austerlitz (Companhia das Letras, trad. de José Marcos Macedo), por exemplo, a narrativa é construída a partir de passagens memorialísticas, relatos de viagem e dados históricos. O resultado é uma prosa que tende mais para o ensaístico do que para o ficcional, e que lembra em alguns momentos o francês Marcel Proust e sua obra-prima Em busca do tempo perdido . Lembra também Cláudio Magris e o seu Danúbio . Seleciono a seguir dois belos trechos de uma leitura em andamento. “Penso como é pouco o que logramos conservar na memória, como tudo cai constantemente no esquecimento com cada vida que se extingue, como o mundo por assim dizer se esvazia por si mesmo, na medida em que as histórias ligadas a inúmeros lugares e objetos por si sós incapazes de recordação não são ouvidas, não são anotadas nem transmitidas por ninguém (...)” [Pág. 28) “No trabalho de fotógrafo, sempre me encantou o instante em que as sombras da realidade
Crítica literária e cultural, por Mauro Souza Ventura