A liberdade de expressão não é um valor exclusivo do Ocidente e os direitos do indivíduo podem ser um atributo de todas as sociedades. Esta máxima, contra a qual o relativismo cultural se insurge, parece cada vez mais válida no Irã. Fiquei pensando nisso ao ler a reportagem do jornalista Jon Lee Anderson na edição de setembro da Piauí.
Anderson viajou a Teerã para entrevistar o presidente Mahmoud Ahmadinejad. Enquanto aguardava a entrevista, aproveitou para passear pelos bairros ao norte da capital do país. Foi à sombra de um pomar de cerejeiras, nas montanhas Alborz, que o autor de A queda de Bagdá e Che Guevara, uma biografia (ambos pela Editora Objetiva) se deparou com três membros do Movimento Verde. Defensor de reformas políticas e de comportamento no Irã, o movimento protagonizou as manifestações e protestos do ano passado, logo após as eleições (suspeitas de fraude) que reconduziram ao poder o atual presidente.
Da reportagem de Anderson, publicada originalmente na revista The New Yorker, destaco o seguinte trecho, bastante ilustrativo dos anseios da sociedade civil iraniana.
“No pomar de cerejeiras, os homens do Movimento Verde com quem eu conversava ganharam a companhia das esposas. Uma delas discorreu sobre Spinoza, um dos precursores do Iluminismo na Europa e da separação do que ela chamou de mesquita e Estado: Precisamos de um Spinoza no Irã.”
Não são apenas as cerejeiras que florescem no Irã: a opinião da sociedade civil e dos indivíduos também germina, apesar da intensa repressão, dos assassinatos e dos julgamentos sumários, que se seguiram aos protestos nas ruas de Teerã. A reportagem de Anderson deixa evidente que a estrutura de poder montada pelos aiatolás e pela fusão da Religiâo com o Estado apresenta rachaduras, e é por meio dessas pequenas frestas que a expressão individual dos iranianos se mantém viva. E mais cedo ou mais tarde esse edifício cairá.
M.S.V.
Anderson viajou a Teerã para entrevistar o presidente Mahmoud Ahmadinejad. Enquanto aguardava a entrevista, aproveitou para passear pelos bairros ao norte da capital do país. Foi à sombra de um pomar de cerejeiras, nas montanhas Alborz, que o autor de A queda de Bagdá e Che Guevara, uma biografia (ambos pela Editora Objetiva) se deparou com três membros do Movimento Verde. Defensor de reformas políticas e de comportamento no Irã, o movimento protagonizou as manifestações e protestos do ano passado, logo após as eleições (suspeitas de fraude) que reconduziram ao poder o atual presidente.
Da reportagem de Anderson, publicada originalmente na revista The New Yorker, destaco o seguinte trecho, bastante ilustrativo dos anseios da sociedade civil iraniana.
“No pomar de cerejeiras, os homens do Movimento Verde com quem eu conversava ganharam a companhia das esposas. Uma delas discorreu sobre Spinoza, um dos precursores do Iluminismo na Europa e da separação do que ela chamou de mesquita e Estado: Precisamos de um Spinoza no Irã.”
Não são apenas as cerejeiras que florescem no Irã: a opinião da sociedade civil e dos indivíduos também germina, apesar da intensa repressão, dos assassinatos e dos julgamentos sumários, que se seguiram aos protestos nas ruas de Teerã. A reportagem de Anderson deixa evidente que a estrutura de poder montada pelos aiatolás e pela fusão da Religiâo com o Estado apresenta rachaduras, e é por meio dessas pequenas frestas que a expressão individual dos iranianos se mantém viva. E mais cedo ou mais tarde esse edifício cairá.
M.S.V.
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