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Mostrando postagens de novembro, 2010

O Fidel Castro da literatura brasileira

D e toda esta polêmica envolvendo o Jabuti de 2010, que deu a Leite Derramado , de Chico Buarque, o prêmio de melhor ficção do ano, em detrimento do primeiro lugar na categoria, Se eu fechar os olhos agora , de Edney Silvestre, duas constatações me parecem inevitáveis. A primeira delas é a acertada crítica de Ségio Machado, o editor da Record, de que o Jabuti sucumbiu à era do escritor celebridade. “Se eu amanhã publicar um livro infantil da Xuxa, é capaz que eu ganhe o infanto juvenil. Esse prêmio, do jeito que está sendo disputado, poderia ser feito na plateia do Faustão. Ou do Silvio Santos. Porque não tem absolutamente nenhum critério”, declarou à Folha de S. Paulo. A segunda constatação diz respeito à figura de Chico Buarque, cuja consagração no campo da música (inquestionável, diga-se) acabou por contaminar o julgamento de sua produção no campo da literatura. Transformado em grife, livro de Chico é livro de Chico, e isso independe do mérit

Martín Fierro, vanguarda e utopia

T alvez uma das melhores partes de Modernidade periférica , de Beatriz Sarlo, seja o capítulo 4, Vanguarda e utopia , pois é nele que a autora reconstitui, com rigor e beleza, um dos momentos cruciais da modernidade argentina: o espírito de renovação trazido por revistas como Prisma , Proa e Martín Fierro. Esta revista, aliás, tornou-se sinônimo de uma época de efervescência literária na Argentina e, mais do que isso, delineou os rumos da vanguarda na capital do país, consolidando o processo de autonomização do campo cultural ao promover um reposicionamento dos agentes e das ideias em voga. Tanto no aspecto ideológico quanto no estético, a geração de ecritores como Hidalgo, Macedonio e Borges, descobre e divulga novos princípios de valor literário, principalmente no que tange à questão da identidade cultural, cristalizado naquilo que Sarlo denomina de “ criollismo urba

A modernidade periférica de Buenos Aires

“ T odo livro começa como desejo de outro livro, como impulso de cópia, roubo, contradição, como inveja e confiança desmedida.” As palavras de Beatriz Sarlo na introdução a Modernidade periférica (Trad. e posfácio de Julio Pimentel Pinto. São Paulo: Cosacnaify, 2010) , o seu mais recente livro lançado no Brasil, bem que poderiam servir de apólogo para as relações culturais das metrópoles européias com as capitais latino-americanas. P ois este estudo da ensaísta argentina, de 1988, insere-se no jogo dialético entre localismo e cosmopolitismo, que tanto mal-estar tem gerado na intelectualidade latino-americana. Como ela própria explica no início do livro, sua escrita transita entre a crítica literária e a cultural e este livro é um estudo “mesclado sobre uma cultura (a urbana de Buenos Aires) também mesclada”. Misto de história intelectual com análise sóciocultural, Modernidade