Pular para o conteúdo principal

Arte e resistência na China

"Bicicleta": instalação de Ai Weiwei

Ele passou quase três meses na cadeia e hoje vive em prisão domiciliar. Teve seu ateliê, que custou US$ 1,2 milhão, totalmente destruído e seu blog retirado do ar. Ai Weiwei, um dos mais conhecidos artistas chineses, sofreu todas essas ações por um único motivo: manifestou suas opiniões publicamente. Na China, isso é crime.
A imprensa chinesa está proibida de falar no seu nome e ele também não pode se manifestar, mas vem burlando essa proibição graças ao Twitter. Na China, o serviço de microblogs pode ser acessado por redes privadas, o que impede que seja bloqueado pelo governo, a exemplo da internet.
Recentemente, a Folha de S. Paulo publicou uma entrevista exclusiva com o artista. Mesmo proibido de falar à imprensa, inclusive do exterior, Weiwei não se omitiu de expressar suas opiniões e lutar pela liberdade individual na China.
O artista chinês Ai Weiwei
“Fui espancado, quase terminei meus dias no hospital por causa das lesões, destruíram o meu ateliê, me aplicaram uma enorme multa tributária. Tudo sob ordens vindas não se sabe de onde. Não são apenas autoridades. Toda a imprensa chinesa não pode nem me criticar”, conta o artista ao repórter Fabiano Maisonnave.
A situação é tão absurda que, recentemente, jovens estudantes foram presos e interrogados apenas por que retuitaram informações. “Os tuítes não foram nem escritos por eles. Isso pode causar desaparecimentos por semanas. E muitos estão mentalmente doentes. As pessoas começam a ter crises psicológicas por causa desse tipo de tratamento”, relata Weiwei.
Numa sociedade amordaçada, cabe aos artistas assumir funções que, em locais onde há liberdade de expressão, são desempenhadas pela mídia. Mas na China não há mídia livre, nem oposição organizada. Somente vozes, solitárias e corajosas, como a de Ai Weiwei. M.S.V.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"O cacto", de Bandeira

Houve tempo em que a leitura de poemas era para mim um hábito quase diário. Tenho a impressão de que a poesia é mais necessária quando somos jovens e estamos ainda em busca de um caminho. Entre os poetas brasileiros, Manuel Bandeira talvez tenha sido o autor ao qual mais retornei para releituras. E não havia mediação crítica nessas leituras. Só muito mais tarde, já aluno de Teoria Literária na USP, é que acrescentei à minha experiência de leitura as análises do crítico literário e professor Davi Arrigucci Jr. Foi num de seus cursos que conheci O cacto , um pequeno poema que o professor Davi analisava em aula. De seu método, guardei para sempre a atitude que todo leitor deve ter diante da poesia, antes mesmo da interpretação: trata-se da escavação filológica, procedimento aberto por Erich Auerbach. Publicado em 1925, O cacto impressiona pela beleza áspera que exala de seus versos. “Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária: Laocoonte constrangido pelas serpentes, Ugoli

Em busca da Terra de Ninguém

No romance O cavaleiro da terra de ninguém o escritor Sinval Medina reconstrói a trajetória do português Cristóvão Pereira de Abreu, sertanista e comerciante que abriu o primeiro caminho terrestre ligando o Uruguai a São Paulo. No distante século 18, havia uma extensa e despovoada faixa do território brasileiro que começava na Colônia do Sacramento, hoje Uruguai, e chegava até os campos da Vila de Santo Antônio dos Anjos de Laguna, ou apenas Laguna, como chamamos hoje. Nesta vasta e solitária paisagem, viviam “sem lei nem rei” minuanos, tapes, jesuítas, castelhanos, buenairenses e outros tipos erráticos, todos disputando um pedaço desta vasta, rica e desabitada parte do Brasil, chamada muito apropriadamente de Terra de Ninguém. Este foi o cenário escolhido pelo escritor Sinval Medina para contar as aventuras do cavaleiro português Cristóvão Pereira de Abreu, que ficou conhecido como Rei dos Tropeiros, e que encarou o desafio de abrir um caminho por terra ligando as barrancas orientais

A história de uma família numa coleção de netsuquês

O Palácio Ephrussi, na Ringstrasse, em Viena Transformar em livro a história de uma família é uma idéia cujos resultados costumam chatear o leitor, que em geral se vê diante de páginas que desfilam elogios e que só constróem imagens oficiais dos biografados. Não é o que ocorre com A lebre com olhos de âmbar , de Edmund de Waal (Ed. Intrínseca), que, conta a história de uma coleção de miniaturas feitas de marfim e madeira que pertenceu aos Ephrussis, uma família originária de Odessa, na Rússia, que se estabeleceu na França e na Áustria no final do século 19. Os Ephrussis eram de origem judaica e fizeram fortuna no setor financeiro, ao mesmo tempo em que revelaram-se grandes colecionadores de obras de arte. Ao herdar a coleção de miniaturas, o autor, Edmund de Waal (desconhecido por aqui, mas parece que e reconhecido lá fora como ceramista) decide mergulhar na história para resgatar a trajetória de seus avós. Parte para Paris e Viena em busca de documentos de seus antepassad