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Hallo aus Berlin!

O taxista palestino que me levou do Aeroporto de Berlim ao Hotel freou de repente o carro e estendeu-me a mão quando eu lhe disse que era brasileiro. “No Brasil tem muitos palestinos”, disse-me, com um certo ar de identificação, ou melhor, com um olhar out of place, como diria o também palestino Edward Said.  
Sari está em Berlim há doze anos, sustenta mulher e três filhos com seu trabalho de taxista no Aeroporto Tegel e fala mais o inglês do que alemão. Acho até que ele prefere mesmo o inglês, e essa preferência talvez se deva ao baixo grau de assimilação de Sari à cultura local. Como língua e cultura são entidades inseparáveis, Sari prefere manter-se como um palestino no exílio. No rádio do táxi toca música árabe, mas ele logo desliga, por educação.
Pelo que pude ver hoje, há muitos imigrantes asiáticos e árabes em Berlim. Minhas primeiras impressões são de encantamento e fascínio por esta cidade que já foi a “capital do Terceiro Reich”. Caminhando pelos bairros do Dahlem e Steglitz, localizados no entorno do Jardim Botânico e da Freie Unviersität, onde estou para participar de um congresso, vê-se muita gente de bicicleta ou tomando sorvete pelas ruas ou nos cafés. Os berlinenses aproveitam os últimos dias de verão. Estou ainda muito longe da Unter den Linden, mas logo chegarei lá.

M.S.V.

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