E assim seguirá a economia narrativa de "No intenso agora", documentário de João Moreira Salles. A revolução cultural de Mao Tse Tung na China surge em contraponto a revolta estudantil de maio de 68 na França. Fica a impressão de que a primeira venceu, a segunda terminou em farsa, acordo com os patrões. Na China, porém, todos são iguais. Não há espaço para a liberdade individual, pois a liberdade diferencia. E numa sociedade de iguais não pode haver diferença.
Lá pelas tantas, ouvimos do narrador: " A maior propaganda anti-comunista é a tristeza de Berlim oriental".
Conheci essa tristeza, ou o que restou dela, em 2015, quando percorri a Karl Marx Allee, na antiga Berlim oriental. Tristeza do vazio das grandes alamedas sem vida.
O documentário de João Moreira Salles incomoda. Incomoda pois o ponto de vista narrativo é conservador.
M.S.V. |
Houve tempo em que a leitura de poemas era para mim um hábito quase diário. Tenho a impressão de que a poesia é mais necessária quando somos jovens e estamos ainda em busca de um caminho. Entre os poetas brasileiros, Manuel Bandeira talvez tenha sido o autor ao qual mais retornei para releituras. E não havia mediação crítica nessas leituras. Só muito mais tarde, já aluno de Teoria Literária na USP, é que acrescentei à minha experiência de leitura as análises do crítico literário e professor Davi Arrigucci Jr. Foi num de seus cursos que conheci O cacto , um pequeno poema que o professor Davi analisava em aula. De seu método, guardei para sempre a atitude que todo leitor deve ter diante da poesia, antes mesmo da interpretação: trata-se da escavação filológica, procedimento aberto por Erich Auerbach. Publicado em 1925, O cacto impressiona pela beleza áspera que exala de seus versos. “Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária: Laocoonte constrangido pelas serpentes, Ugoli
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