B. é um escritor desconhecido que anda sem rumo entre cidades da França e Bélgica. Vive mudando de hotel, lê romances que depois joga no lixo, toma notas mas não escreve nada. Gosta de gêneros menores e de escritores desconhecidos.
B. é o narrador de “Vagabundo na França e na Bélgica”, conto de Putas Assassinas (Companhia das Letras, 2008), do chileno Roberto Bolaño. Os personagens deste conto não têm nome, apenas iniciais, numa indicação de que os seres que habitam a narrativa já não têm mais identidade.
Existência marcada pela extraterritorialidade, B é espanhol de origem, lê romances policiais em francês, idioma que mal conhece, assiste filmes falados em inglês e percorre os sebos em busca de autores esquecidos. A seguir, um pequeno trecho significativo do conto:
“Na manhã seguinte pega um trem com destino a Paris. Hospeda-se no hotel da rue Saint-Jacques, em outro quarto, e dedica os primeiros dias a procurar nos sebos um livro qualquer de André du Bouchet. Não acha nada. Du Bouchet, como Henry, o de Masnuy, foi apagado do mapa. No quarto dia não sai mais à rua. Manda subir comida ao seu quarto, mas quase não come. Termina de ler o último romance que comprou e joga-o no cesto do lixo.” (pág. 91).
À primeira vista, parece estarmos diante de uma literatura que se alimenta da própria literatura, como em Borges. Mas não é isso. Nenhum personagem do escritor argentino joga um romance no lixo. Há um desprezo e uma descrença pela escrita literária que lembram os comentários de Monsieur Teste, de Valéry, que queimava seus cadernos de anotações.
M.S.V.
B. é o narrador de “Vagabundo na França e na Bélgica”, conto de Putas Assassinas (Companhia das Letras, 2008), do chileno Roberto Bolaño. Os personagens deste conto não têm nome, apenas iniciais, numa indicação de que os seres que habitam a narrativa já não têm mais identidade.
Existência marcada pela extraterritorialidade, B é espanhol de origem, lê romances policiais em francês, idioma que mal conhece, assiste filmes falados em inglês e percorre os sebos em busca de autores esquecidos. A seguir, um pequeno trecho significativo do conto:
“Na manhã seguinte pega um trem com destino a Paris. Hospeda-se no hotel da rue Saint-Jacques, em outro quarto, e dedica os primeiros dias a procurar nos sebos um livro qualquer de André du Bouchet. Não acha nada. Du Bouchet, como Henry, o de Masnuy, foi apagado do mapa. No quarto dia não sai mais à rua. Manda subir comida ao seu quarto, mas quase não come. Termina de ler o último romance que comprou e joga-o no cesto do lixo.” (pág. 91).
À primeira vista, parece estarmos diante de uma literatura que se alimenta da própria literatura, como em Borges. Mas não é isso. Nenhum personagem do escritor argentino joga um romance no lixo. Há um desprezo e uma descrença pela escrita literária que lembram os comentários de Monsieur Teste, de Valéry, que queimava seus cadernos de anotações.
M.S.V.
Comentários
Adorei o que você escreveu e análise. Estou bem. As aulas começam apenas dia 17. Acredito que em todo o estado. Estou estudando bastante e agora vou preparar uma turma para o ENADE. Trabalhei nas férias dando um outro curso na Faccamp. Mande sempre notícias.
Abraço grande,
Maria Auxiliadora