Nesta época pipocam na mídia as famosas listas dos melhores do ano que passou e as indicações de leitura para o ano que entra. Minha lista não é feita dos melhores disso ou daquilo, nem contempla autores novos ou consagrados. É uma lista de dívidas pessoais que tenho com certos livros que já deveria ler lido.
São obras que encontrei abandonadas na babel de minha biblioteca. Pretendo lê-las no decorrer do ano, além, é claro, dos livros de trabalho (sempre teóricos) e dos inúmeros artigos acadêmicos, contingência também da profissão. São as seguintes, em ordem alfabética. Publico-as, aqui, para dividir com o leitor minhas inquietações.
A escrita ou a vida, de Jorge Semprun
Jorge Semprun |
Neste romance, o escritor chileno parte de um fato real – a invasão da Universidade Autônoma do México por tropas militares em 1968 – para contar a trajetória de Auxilio Lacouture, uma artista andarilha, hippie, tão criativa quanto alucinada. Uma metáfora da criação artística amordaçada pelo autoritarismo político.
A resistência, de Ernesto Sabato
Por meio de cartas, o argentino Sabato compõe um diagnóstico de nossa época. Um libelo contra a solidão nas grandes cidades, a desumanização, a violência e a transformação da arte em mercadoria. É o testamento intelectual de um grande escritor.
A trégua, de Mario Benedetti
O Uruguai dos anos 50 surge nas páginas desta novela, que conta a trajetória de um sujeito fracassado que vive esperando sua aposentadoria. O motivo de tanto desgosto foi a morte prematura da mulher amada, fato jamais superado pelo protagonista de A trégua.
Bartleby, o escriturário, de Herman Melville
Aqui o autor de Moby Dick conta a trajetória de um escriturário fracassado que se afunda cada vez mais na rotina de seu trabalho. A narrativa lembra um pouco Kafka e nos ajuda a constatar que a burocratização do trabalho e a infelicidade podem conduzir à alienação e à loucura.
O mal de Montano, de Enrique Vila-Matas
A matéria-prima da ficção de Vila-Matas é a própria literatura. Desapaecer, não escrever mais. O mal de Montano pode ser a cura para a morte anunciada da literatura. De onde vem as ameaças? Da hegemonia do mercado, do escritor-celebridade e da literatura-entretenimento.
Os emigrantes, de W.S. Sebald
Sebald: memória e história |
Os espólios de Poynton, de Henry James
Publicado pela primeira vez em 1896, este livro traz um Henry James em plena forma. Seus personagens são sempre bem construídos do ponto de vista da personalidade e James não poupa o esnobismo e o falso moralismo da aristocracia inglesa.
Respiração artificial, de Ricardo Piglia
Ricardo Piglia |
Na Argentina da década de Setenta, um jovem escritor se vê envolvido numa trama policial. O pano de fundo é a tomada do poder pelos militares, que resultaria numa das mais sangrentas ditaduras do Cone Sul. Piglia é um dos escritores fundamentais da literatura contemporânea.
O escritor italiano escreve um romance para falar da linguagem do romance. A narrativa volta-se para si mesma, em movimentos circulares, feitos de paradas, reflexões, conversas com o leitor e, também, histórias.
Uma luz em meu ouvido, de Elias Canetti
Segundo volume das memórias de Canetti, aqui o escritor búlgaro-austríaco relembra seus anos de formação em Berlim e Viena. Ao mesmo tempo, reconstitui em detalhes os momentos de crise, inflação, revoltas políticas e lutas culturais na Viena de Freud, Karl Kraus e outros. O olhar de Canetti e sua capacidade de reelaborar o passado são impressionantes.
Vox, de Nicholson Baker
Dois desconhecidos, que vivem em locais opostos dos Estados Unidos, iniciam uma envolvente “relação sexual”. Confidências, fantasias, erotismo e o poder da sedução pela linguagem. Detalhe: tudo se passa numa conversa telefônica. Publicado em 1992, o livro prenuncia o erotismo na era digital.
M.S.V.
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