Em entrevista recente, fui perguntado sobre as diferenças entre a crítica jornalística e a crítica literária. O assunto é importante, pois mexe com fatores cruciais para se entender os rumos atuais da cultura letrada. Respondi que toda crítica literária é, em maior ou menor grau, jornalística, pois tem por função servir de intermediação entre o autor e o público.
O Brasil possui uma vasta tradição de crítica literária publicada em jornais, e mais do que isso: produzida para o jornal. Depois, é claro, essa crítica vira livro, mas aí já é outra coisa.
E por que existe essa proximidade? Porque o crítico precisa comunicar algo para o público. Há uma dimensão publicista da crítica literária que não pode ser esquecida. Ora, o que acontece quando o crítico literário deixa de escrever para o público? Não precisa publicar mais em jornal, e sim em revistas acadêmicas. Por isso sustento essa proximidade entre a crítica jornalística e a literária. São parte da mesma matriz discursiva.
É claro que essa crítica jornalístico-literária quase não existe mais hoje, pois a imprensa só abre espaço para resenhas. E a resenha é um gênero distinto, mais factual, sem profundidade, sem análise, somente um comentário breve.
Enfim, o que temos hoje é, de um lado, o resenhismo rápido e superficial; de outro, a crítica acadêmica que fica restrita à universidade, aos congressos etc. Uma crítica mais ‘técnica’, sem preocupação com a linguagem, sem estilo. Uma crítica esotérica, fechada, para poucos, para os professores.
E o público que ainda gosta de literatura? Este está órfão, pois não pode contar mais com o crítico de sólida formação e que ainda escreve com clareza e inteligência. É evidente que o jornalista profissional não consegue cumprir esta função, pois não tem nem formação, nem tempo.
Portanto, a única possibilidade que vejo para o crítico literário hoje é a universidade, já que no jornalismo não sobra tempo para a formação, para a leitura. Escrever crítica demanda tempo e dedicação. Por outro lado, os especialistas em teoria literária só escrevem para os especialistas.
Acredito que o crítico é um intelectual que possui uma função pública a desempenhar, a de intermediário entre o autor e o público.
Nesse sentido, o crítico deve ser um hospedeiro do artista, mas um hospedeiro que possui autonomia diante das pressões do mercado e visão crítica. Enfim, um sujeito independente, e isso custa muito caro.
M.S.V.
O Brasil possui uma vasta tradição de crítica literária publicada em jornais, e mais do que isso: produzida para o jornal. Depois, é claro, essa crítica vira livro, mas aí já é outra coisa.
E por que existe essa proximidade? Porque o crítico precisa comunicar algo para o público. Há uma dimensão publicista da crítica literária que não pode ser esquecida. Ora, o que acontece quando o crítico literário deixa de escrever para o público? Não precisa publicar mais em jornal, e sim em revistas acadêmicas. Por isso sustento essa proximidade entre a crítica jornalística e a literária. São parte da mesma matriz discursiva.
É claro que essa crítica jornalístico-literária quase não existe mais hoje, pois a imprensa só abre espaço para resenhas. E a resenha é um gênero distinto, mais factual, sem profundidade, sem análise, somente um comentário breve.
Enfim, o que temos hoje é, de um lado, o resenhismo rápido e superficial; de outro, a crítica acadêmica que fica restrita à universidade, aos congressos etc. Uma crítica mais ‘técnica’, sem preocupação com a linguagem, sem estilo. Uma crítica esotérica, fechada, para poucos, para os professores.
E o público que ainda gosta de literatura? Este está órfão, pois não pode contar mais com o crítico de sólida formação e que ainda escreve com clareza e inteligência. É evidente que o jornalista profissional não consegue cumprir esta função, pois não tem nem formação, nem tempo.
Portanto, a única possibilidade que vejo para o crítico literário hoje é a universidade, já que no jornalismo não sobra tempo para a formação, para a leitura. Escrever crítica demanda tempo e dedicação. Por outro lado, os especialistas em teoria literária só escrevem para os especialistas.
Acredito que o crítico é um intelectual que possui uma função pública a desempenhar, a de intermediário entre o autor e o público.
Nesse sentido, o crítico deve ser um hospedeiro do artista, mas um hospedeiro que possui autonomia diante das pressões do mercado e visão crítica. Enfim, um sujeito independente, e isso custa muito caro.
M.S.V.
Comentários