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Comunicação e literatura em fricção

Será possível (re)aproximar a comunicação da literatura? Pois este é um dos propósitos da coletânea Pensamento comunicacional latino-americano através da literatura (São Paulo: Intercom, 2013). O livro reúne trabalhos apresentados XVI Colóquio Internacional da Escola Latino-americana de Comunicação, realizado de 08 a 10 de agosto de 2012, na UNESP de Bauru.
O tema do encontro, “pensamento comunicacional latino-americano através da literatura”, foi concebido com a finalidade buscar o diálogo entre duas áreas que, por definição, estão em lugares opostos e, não raro, sempre em contenda ou, no mínimo, em fricção. O livro traz o melhor do que foi apresentado no Colóquio. A seguir, transcrevo trechos da Introdução ao livro, intitulada “Comunicação, ficção e a função integradora dos saberes” (p.15-21):
“Dividido em quatro partes, inicia com uma homenagem a Jorge Fernández feita por seu filho, o equatoriano Marcelo Fernández, seguida por artigo de José Marques de Melo, que destaca a trajetória deste pioneiro dos estudos de comunicação na América Latina. Em seguida, traz artigos que abordam o diálogo entre comunicação e literatura de autoria de Muniz Sodré, Tania Rosing, Cremilda Medina, Sinval Medina e Laan Mendes de Barros, cinco renomados especialistas no tema central do evento.
A obra também aborda alguns aspectos contemporâneos da questão, trazidos pelo olhar de ilustres pesquisadores do campo da comunicação, como Maria Cristina Gobbi, Elizabeth Gonçalves, Isabel Travancas, Francisco Sierra Caballero e Sebastião Albano da Costa. Na quarta parte da coletânea, o diálogo entre comunicadores e ficcionistas se revela na abordagem de Mauro Souza Ventura, Antonio Hohlfeldt, Esmeralda Villegas Uribe e Sônia Jaconi.
Mais do que diálogo, o que se viu durante o XVI Celacom -- e o leitor poderá comprovar nos textos desta coletânea --, foi uma evidente demonstração da atualidade das relações que permeiam e dão forma aos campos da comunicação e da literatura. Afinal, seria possível pensar a Comunicação por meio da ficção, ou vice-versa? Os painéis e debates apresentados no Celacom 2012 mostraram que esses dois campos podem e devem permanecer em diálogo”.

M.S.V.

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