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Passeando pelo centro de Viena

Viena, 04/11/2011, 11h30. A capital da Áustria pode ser exemplo para muitas coisas, mas poucas são tão eloquentes quanto a relação que esta cidade estabelece com seu velho e histórico centro. Enquanto a imensa maioria das médias e grandes cidades assiste inerte, ou até estimula, uma expansão urbana que vai do centro para a periferia, deixando imensas áreas que já contam com infra-estrutura caminharem para a degradação, em Viena parece ocorrer um movimento contrário. Aqui o poder público valoriza, restaura e mantém o dinamismo de sua área central, chamada de Innere Stadt.
O centro de Viena é uma espécie de cidade dentro da cidade, circundada por grandes avenidas que formam um único anel. O círculo começa no canal do Danúbio, segue pelas avenidas Shotternring, Karl Lueger Ring, Karl Renner Ring, Burgring, Opernring, Kartner Ring, Schubertstrasse Park Ring e Stuben Ring, para terminar novamente no Danúbio.
Esta fisionomia urbana tem origem no século 19, quando uma ampla reforma alterou significativamente a paisagem da cidade, transformando-se numa síntese dos valores e da cultura da alta classe média liberal vienense. É a Viena da Ringstrasse, cujos frutos ecoam ainda hoje quando se caminha por Innere Stadt.
É no interior desse anel que estão localizadas as dezenas de prédios monumentais que formam um magnífico conjunto arquitetônico, impossível de ser descrito em palavras. Lá estão os prédios do Parlamento, da Prefeitura (Rathaus), da Catedral de Viena, os dois gigantescos museus, o de História da Arte e o de História Natural, além do complexo do Hofburg. Tudo isso sem falar na Universidade, em outras igrejas e nos palácios, hoje transformados em hotéis, embaixadas, bancos, museus e mais museus.
Quando, numa fria tarde de sábado, caminhei pela primeira vez no meio desses monumentos, não pude conter a emoção, tal é a eloqüência desses símbolos, repletos de história e de cultura, e cuja imponência continua intacta graças ao contínuo trabalho de preservação do patrimônio e da memória da cidade.
M.S.V.

Comentários

M.Tomaz disse…
pô Maurão, tô acompanhando sua saga aí na terra do Schwarzenegger, pq música clássica é para os fracos.

Murilo
M.Tomaz disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Valeu, Murilo. Obrigado pela visita. Aqui, estou enfrentando 10 graus, o Sol ainda não conseguiu vencer as nuvens e às 17 horas já é noite.
o abraço,
Mauro
Maurão... deixa os estudos de lado e beba uma Mac Queens Nessie... vale a pena.
Fique tranquilo que a Woodstock já esta no forno.
Grande abraço e curta sua viagem.

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