Prédio da Biblioteca Nacional Austríaca, na parte central do Hofburg |
Viena. Jamais me esquecerei desses dias em Viena, em que pesquiso os papéis de Otto Karpfen. Já são muitas as boas e fortes lembranças desse período, mas as bibliotecas que conheci aqui merecem uma atenção à parte. Como faço uma pesquisa documental, tenho ido a várias instituições, museus e arquivos da cidade. Em todos os lugares, seja em instituições públicas ou particulares, tenho sido muito bem atendido. A qualidade dos serviços à disposição do estudioso e do pesquisador é impressionante.
Mas penso que nenhum outro local me encantou tanto quanto a Österreichische Nationalbibliothek, a Biblioteca Nacional Austríaca. Localizada em Heldenplatz – o encantador e enigmático Heldenplatz, sobre o qual ainda escreverei --, a ONB é o lugar ideal para se ler, estudar e pesquisar. Não apenas pelo acervo, cujos números desconheço, mas principalmente pelo ambiente. E uma biblioteca sem ambiente afasta os leitores.
Fachada do Salão Barroco, biblioteca histórica construída em 1723 |
Está sempre cheia de estudantes de todas as idades, mas há muitos jovens, e confesso que nunca vi tantos estudando ao mesmo tempo. Na enorme Sala de Leitura, todos ficam em suas mesas, com luzes individuais e cadeiras confortáveis, com seus cadernos e notebooks, estudando para provas, fazendo tarefas. Enfim, um ambiente tão cheio de vida que nem parece uma biblioteca. Sempre tive aversão a bibliotecas vazias, que dão tédio e tiram a vontade de estudar. Na ONB isso não existe. Não sei explicar. Talvez sejam apenas impressões de estrangeiro. Mas há várias semanas que freqüento o local e a cena é a mesma.
Quando saio, por volta das 20 horas (o que já é noite alta, pois desde meados de novembro tem escurecido às 16 horas), e atravesso a enorme praça de Heldenplatz, com as luzes do Hofburg todas acesas, tenho a sensação de que jamais esquecerei esse cenário. Nem a temperatura próxima de zero é capaz de esfriar a emoção que sinto quando deixo esse local tão cheio de significado, tão prenhe de história. Foi aqui, por exemplo, que Hitler, em 15 de março de 1938, fez o discurso em que anunciou a anexação da Áustria pela Alemanha.
A Biblioteca ocupa posição central no imenso prédio que compõe o Hofburg e isso também me parece significativo do apreço que este país tem pela cultura, pelos livros, pelos seus documentos, enfim, pelos seus estudantes. Tenho observado que a Biblioteca talvez seja o único local turístico da cidade em que os turistas não são maioria, o que mostra que o lugar é frequentado pelos moradores. E, é claro, por estrangeiros em busca de conhecimento.
M.S.V.
M.S.V.
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